"Criar é a grande emancipação da dor e o alívio da vida;
mas para o criador existir são necessárias muitas dores e transformações.
Sim, criadores, é mister que haja na vossa vida muitas mortes amargas.
Sereis assim os defensores e justificadores de tudo o que é perecível.
Para o criador ser o filho que renasce, é preciso que queira ser a mãe
com as dores de mãe."
Friedrich Nietzsche, do livro Assim Falou Zaratustra
30 de set. de 2008
13 de set. de 2008
NIETZSCHE, UM DOS PENSADORES MAIS PROVOCATIVOS DA FILOSOFIA MODERNA
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE
(1844-1900)
Filósofo alemão
Em 15 de outubro de 1844 nasce Friedrich Wilhelm Nietzsche, na cidade de Rocken, nas proximidades de Lutzen (Saxônia). Nietzsche inicia sua informação universitária na Universidade de Bonn, em filologia clássica, tendo como professor Friedrich Ritschl. Sofre influências deste professor, tendo início aí sua liberdade de olhar para a realidade, percebendo a seriedade nas coisas do dia-a-dia, distinguindo o real do irreal, adquirindo paciência frente suas buscas na vida. Advém daí também, o aprendizado essencial do estudioso, que é a paixão que o move e o torna íntegro intelectualmente. É indicado por Ritschl para lecionar na Universidade da Basiléia, sem haver concluído seus estudos. Diante desta indicação, Nietzsche recebe o título de Doutor pela Universidade de Lerpzing sem haver realizado exames. Este filósofo participou da Guerra Franco-Prussiana como enfermeiro voluntário (agosto a outubro de 1870). Herda, desta época, uma série de enfermidades que o acompanharão até o final de sua vida. Em 3 de janeiro de 1900 Nietzsche enlouquece e caí pelas ruas de Turim, iniciando aí um momento trágico em sua vida. Foi internado na Basiléia onde foi diagnosticado "paralisia progressiva". Nietzsche passou a assinar "O Crucuficado", "Dionísio". Provavelmente de origem sifilítica, a moléstia progrediu até a apatia e agonia. Passou a ser cuidado inicialmente por sua mãe que vem a falecer, e posteriormente por sua irmã. Falece a 25 de agosto de 1900 em Weimar. Sua vida foi marcada por episódios de profunda solidão, euforia e depressão. Além de filologia, Nietzsche estudou também filosofia e teologia. Foi leitor de Schiller, Fichte, Holderlin, Byron, Platão , Ésquilo, entre outros. Leu também Dostoievski. Identificava-se com a música do compositor Wagner e sentiu-se atraído pelo ateísmo de Schopenhauer. Criticava Sócrates por considerar sua influência racionalista, "decadente". Acreditava que com Sócrates, a Grécia antiga e a sua força criadora tiveram seu fim. Interpreta as obras de Wagner como o renascimento da grande arte grega, mas muda de opinião ao identificar neste compositor influências pessimistas de Schopenhauer e, assim, rompe com os dois. O conteúdo da filosofia de Nietzsche vem de sua própria contemplação do mundo, combinado com o método filológico e não da leitura e estudo de obras de outros filósofos. Filosofia, para este pensador, é uma questão de máxima seriedade, não sendo concebida como uma aquisição intelectual, e sim como uma visão de como o homem deve viver. A filosofia é capaz de determinar a natureza do mundo experimental e dos padrões relativos a racionalidade, que constituem e regulam a existência humana. Seu pensamento, orienta-se para a investigação empírica da existência humana. Concebe que o homem é estranho a ele mesmo e sua tarefa é de alcançar sua verdadeira existência, não deixando que ela resuma-se à um simples acontecimento insignificante. A filosofia de Nietzsche propõe uma inversão das idéias filosóficas e dos valores morais tradicionais. Procura criar um espaço ilimitado através do levantamento de questões críticas diante do que já está estabelecido. Para ele, não há verdade a respeito das coisas, somente diferentes interpretações possíveis da realidade, e por isso tudo passa a ser possível. Cabe a cada um dos homens interpretar estas sugestões de interpretações. Nietzsche considera o homem do destino como aquele que é capaz de contradizer o que está estabelecido, e através desta atitude acredita ter algo de novo a anunciar: contradiz o positivismo e sua crença no fato; contradiz os idealistas e historicistas; contradiz o espiritualismo e proclama a morte de Deus; contradiz a moral dos escravos e exalta a moral dos aristocratas; etc. A auto-contradição tem um papel importante para ele, pois para cada afirmação que faz, afirma também o seu contrário. Considera que a verdade das coisas está presente nas questões que dirigem-se à elas e não nas afirmações que se possa fazer a respeito delas. Isto aponta sua paixão pela aventura, pela incerteza e pelas coisas que ainda não foram descobertas, identificadas. Nietzsche define o niilismo da seguinte forma: "a conseqüência necessária do cristianismo, da moral e do conceito de verdade da filosofia." Através desta definição, Nietzsche usa o niilismo para qualificar sua oposição aos valores morais tradicionais e as tradicionais crenças metafísicas. Disto surge a idéia da "morte de Deus". Para o autor, Deus não passa de uma conjectura, e por assim ser o homem não pode vê-lo, ouvi-lo, etc. O Deus cristão, é para Nietzsche, um Deus que parece diminuir o valor e o significado do homem, desvaloriza o mundo e a vida na Terra em nome de sua própria glória. Este pensador questiona se é possível que haja valores universalmente válidos e uma vida significativa em um mundo sem Deus. Ao final, Nietzsche encontra no homem a fonte de seus próprios valores, sendo ela a medida de todas as coisas, surgindo assim a noção de "super-homem". Este ama a vida, cria o sentido da Terra, pois possuí a vontade de potência. O autor acaba por superar o niilismo ao desligar-se da idéia de que a existência seria uma fonte de sofrimento para o homem, como queria o cristianismo. Através do uso de aforismos e de poemas, Nietzsche trouxe grande contribuição à filosofia moderna. Seu aforismo é a possibilidade de existirem ao mesmo tempo a interpretação de algo e o que está sendo interpretado. O poema é ao mesmo tempo a possibilidade de avaliar algo e a própria coisa a ser avaliada. O autor considera que o filósofo deveria ser possuidor destas duas formas de expressão. Suas principais obras são: "O Nascimento da Tragédia" (1872); "Considerações Inatuais" (1873-1876); "Humano muito Humano" (1878 - refere-se ao rompimento com Wagner e seu distanciamento de Schopenhauer); "Aurora" (1881 - onde aparecem teses fundamentais de seu pensamento); "Gaia Ciência" (1882 - promete um novo destino para a humanidade); "Assim falou Zaratustra" (1883); "Além do Bem e do Mal" (1886); "A Genealogia da Moral" (1887); e em 1888: "O Caso Wagner"; "O Crepúsculo dos Ídolos"; "O Anticristo"; "Ecco Homo"; "Nietzsche contra Wagner" e sua última obra inconclusa "Vontade de Poder". Todo o seu pensamento exerce forte influência sobre a literatura, psicanálise, estética, filosofia, reflexão moral e filosofia da religião.
Acontecimentos culturais e históricos:
1843 - Kierkegaard - "Autaut" J.S.Mill - "Sistema da Lógica"
(1844-1900)
Filósofo alemão
Em 15 de outubro de 1844 nasce Friedrich Wilhelm Nietzsche, na cidade de Rocken, nas proximidades de Lutzen (Saxônia). Nietzsche inicia sua informação universitária na Universidade de Bonn, em filologia clássica, tendo como professor Friedrich Ritschl. Sofre influências deste professor, tendo início aí sua liberdade de olhar para a realidade, percebendo a seriedade nas coisas do dia-a-dia, distinguindo o real do irreal, adquirindo paciência frente suas buscas na vida. Advém daí também, o aprendizado essencial do estudioso, que é a paixão que o move e o torna íntegro intelectualmente. É indicado por Ritschl para lecionar na Universidade da Basiléia, sem haver concluído seus estudos. Diante desta indicação, Nietzsche recebe o título de Doutor pela Universidade de Lerpzing sem haver realizado exames. Este filósofo participou da Guerra Franco-Prussiana como enfermeiro voluntário (agosto a outubro de 1870). Herda, desta época, uma série de enfermidades que o acompanharão até o final de sua vida. Em 3 de janeiro de 1900 Nietzsche enlouquece e caí pelas ruas de Turim, iniciando aí um momento trágico em sua vida. Foi internado na Basiléia onde foi diagnosticado "paralisia progressiva". Nietzsche passou a assinar "O Crucuficado", "Dionísio". Provavelmente de origem sifilítica, a moléstia progrediu até a apatia e agonia. Passou a ser cuidado inicialmente por sua mãe que vem a falecer, e posteriormente por sua irmã. Falece a 25 de agosto de 1900 em Weimar. Sua vida foi marcada por episódios de profunda solidão, euforia e depressão. Além de filologia, Nietzsche estudou também filosofia e teologia. Foi leitor de Schiller, Fichte, Holderlin, Byron, Platão , Ésquilo, entre outros. Leu também Dostoievski. Identificava-se com a música do compositor Wagner e sentiu-se atraído pelo ateísmo de Schopenhauer. Criticava Sócrates por considerar sua influência racionalista, "decadente". Acreditava que com Sócrates, a Grécia antiga e a sua força criadora tiveram seu fim. Interpreta as obras de Wagner como o renascimento da grande arte grega, mas muda de opinião ao identificar neste compositor influências pessimistas de Schopenhauer e, assim, rompe com os dois. O conteúdo da filosofia de Nietzsche vem de sua própria contemplação do mundo, combinado com o método filológico e não da leitura e estudo de obras de outros filósofos. Filosofia, para este pensador, é uma questão de máxima seriedade, não sendo concebida como uma aquisição intelectual, e sim como uma visão de como o homem deve viver. A filosofia é capaz de determinar a natureza do mundo experimental e dos padrões relativos a racionalidade, que constituem e regulam a existência humana. Seu pensamento, orienta-se para a investigação empírica da existência humana. Concebe que o homem é estranho a ele mesmo e sua tarefa é de alcançar sua verdadeira existência, não deixando que ela resuma-se à um simples acontecimento insignificante. A filosofia de Nietzsche propõe uma inversão das idéias filosóficas e dos valores morais tradicionais. Procura criar um espaço ilimitado através do levantamento de questões críticas diante do que já está estabelecido. Para ele, não há verdade a respeito das coisas, somente diferentes interpretações possíveis da realidade, e por isso tudo passa a ser possível. Cabe a cada um dos homens interpretar estas sugestões de interpretações. Nietzsche considera o homem do destino como aquele que é capaz de contradizer o que está estabelecido, e através desta atitude acredita ter algo de novo a anunciar: contradiz o positivismo e sua crença no fato; contradiz os idealistas e historicistas; contradiz o espiritualismo e proclama a morte de Deus; contradiz a moral dos escravos e exalta a moral dos aristocratas; etc. A auto-contradição tem um papel importante para ele, pois para cada afirmação que faz, afirma também o seu contrário. Considera que a verdade das coisas está presente nas questões que dirigem-se à elas e não nas afirmações que se possa fazer a respeito delas. Isto aponta sua paixão pela aventura, pela incerteza e pelas coisas que ainda não foram descobertas, identificadas. Nietzsche define o niilismo da seguinte forma: "a conseqüência necessária do cristianismo, da moral e do conceito de verdade da filosofia." Através desta definição, Nietzsche usa o niilismo para qualificar sua oposição aos valores morais tradicionais e as tradicionais crenças metafísicas. Disto surge a idéia da "morte de Deus". Para o autor, Deus não passa de uma conjectura, e por assim ser o homem não pode vê-lo, ouvi-lo, etc. O Deus cristão, é para Nietzsche, um Deus que parece diminuir o valor e o significado do homem, desvaloriza o mundo e a vida na Terra em nome de sua própria glória. Este pensador questiona se é possível que haja valores universalmente válidos e uma vida significativa em um mundo sem Deus. Ao final, Nietzsche encontra no homem a fonte de seus próprios valores, sendo ela a medida de todas as coisas, surgindo assim a noção de "super-homem". Este ama a vida, cria o sentido da Terra, pois possuí a vontade de potência. O autor acaba por superar o niilismo ao desligar-se da idéia de que a existência seria uma fonte de sofrimento para o homem, como queria o cristianismo. Através do uso de aforismos e de poemas, Nietzsche trouxe grande contribuição à filosofia moderna. Seu aforismo é a possibilidade de existirem ao mesmo tempo a interpretação de algo e o que está sendo interpretado. O poema é ao mesmo tempo a possibilidade de avaliar algo e a própria coisa a ser avaliada. O autor considera que o filósofo deveria ser possuidor destas duas formas de expressão. Suas principais obras são: "O Nascimento da Tragédia" (1872); "Considerações Inatuais" (1873-1876); "Humano muito Humano" (1878 - refere-se ao rompimento com Wagner e seu distanciamento de Schopenhauer); "Aurora" (1881 - onde aparecem teses fundamentais de seu pensamento); "Gaia Ciência" (1882 - promete um novo destino para a humanidade); "Assim falou Zaratustra" (1883); "Além do Bem e do Mal" (1886); "A Genealogia da Moral" (1887); e em 1888: "O Caso Wagner"; "O Crepúsculo dos Ídolos"; "O Anticristo"; "Ecco Homo"; "Nietzsche contra Wagner" e sua última obra inconclusa "Vontade de Poder". Todo o seu pensamento exerce forte influência sobre a literatura, psicanálise, estética, filosofia, reflexão moral e filosofia da religião.
Acontecimentos culturais e históricos:
1843 - Kierkegaard - "Autaut" J.S.Mill - "Sistema da Lógica"
1846 - Morton - anestesia com éter
1847 - Europa - crise econômico financeira
1848 - Revolução na Europa Primeira Guerra de Independência Italiana Marx-Engels - "Manifesto do Partido Comunista"
1856 - O congresso de Paris
1859 - A Segunda Guerra de Independência Italiana
1861 - Itália - Proclamação do Reino
1861-1865 - Estados Unidos - Guerra da Secessão
1865 - Estados Unidos - abolição da escravatura Morre Lincoln - vítima de atentado Mendel - a lei da hereditariedade Berhard - "Introdução ao Estudo da Medicina Experimental"
1866 - Estados Unidos - igualdade civil dos negros Guerra Austroprussiana
1867 - Marx - "O capital" volume 1
1869 - Abertura do Canal de Suez Estados Unidos - ferrovia transcontinental
1869-1870 - Concílio Vaticano I: infantilidade do papa
1870 - Guerra Francoprussiana
1871 - Proclamação do Império Germânico A Comuna de Paris Darwin - "A Origem do Homem"
1876 - Itália - esquerda no poder
1877 - Japão - fim do feudalismo Édison - fonógrafo e microfone
1878 - Leão XIII - papa Congresso de Berlim Édison - lâmpada elétrica Tolstói - "Ana Karenina"
1879 - Wundt - Instituto de Psicologia Experimental
1882 - Tríplice Aliança1885 - Conferência de Berlim
1888 - Brasil - abolição da escravatura
1890 - Wilde - "O Retrato de Dorian Gray"
1892 - Fundação do Partido Socialista Italiano Diesel - motor a diesel
1900 - Zeppelin - dirigível
1901 - Freud - "Psicopatologia da Vida Cotidiana"
FIÓDOR DOSTOIÉVSKI
Fiódor Mikhailovich Dostoiévski foi uma das maiores personalidades da literatura russa, tido como fundador do Realismo.Sua mãe morreu quando ele era ainda muito jovem e seu pai, o médico Mikhail Dostoievski, foi assassinato pelos próprios colonos de sua propriedade rural em Daravoi, que o julgavam autoritário. Esse fato exerceu enorme influência sobre o futuro do jovem Dostoiévski e motivou o polêmico artigo de Freud: "Dostoiévski e o Parricídio".Em São Petersburgo, Dostoiévski estudou engenharia numa escola militar e se entregou à leitura dos grandes escritores de sua época. Epilético, teve sua primeira crise depois de saber que seu pai fora assassinado. Sua primeira produção literária, aos 23 anos, foi uma tradução de Balzac ("Eugénie Grandet"). No ano seguinte escreveu seu primeiro romance, "Pobre Gente", que foi bem recebido pelo público e pela crítica.Em 1849 foi preso por participar de reuniões subversivas na casa de um revolucionário, e condenado à morte. No último momento, teve a pena comutada por Nicolau 1o e passou nove anos na Sibéria, quatro no presídio de Omsk e mais cinco como soldado raso. Descreveu a terrível experiência no livro "Recordações da Casa dos Mortos" e em "Memórias do Subsolo".Suas crises sistemáticas de epilepsia, que ele atribuía a "uma experiência com Deus", tiveram papel importante em suas crenças. Inspirado pelo cristianismo evangélico, passou a pregar a solidariedade como principal valor da cultura eslava. Em 1857 casou-se com Maria Dmitrievna Issaiev, uma viúva difícil e caprichosa. Dois anos depois retornou a Petersburgo. Em 1862 conheceu Polina Suslova, que viria a ser o seu romance mais profundo. Em 1864, viúvo de Maria, terminou seu caso com Polina e em 1867 casou-se com Anna Snitkina.Entre suas obras destacam-se: "Crime e Castigo", "O Idiota", "O Jogador", "Os Demônios", "O Eterno Marido" e "Os Irmãos Karamazov".Publicou também contos e novelas. Criou duas revistas literárias e ainda colaborou nos principais órgãos da imprensa Russa.Seu reconhecimento definitivo como escritor universal surgiu somente depois dos anos 1860, com a publicação dos grandes romances: "O Idiota" e "Crime e Castigo". Seu último romance, "Os Irmãos Karamazov", é considerado por Freud como o maior romance já escrito.
Nascimento
11 de Novembro de 1821Moscovo
Falecimento
9 de Fevereiro de 1881 (59 anos)São Petersburgo
Nacionalidade
Rússia
Ocupação
Romancista
Magnum opus
Crime e Castigo
Influências
Edgar Allan Poe, Victor Hugo, Charles Dickens, Miguel de Cervantes,[1] William Shakespeare, Aleksandr Pushkin e Leo Tolstoy.[2]
Influenciados
Marcel Proust, Franz Kafka, Albert Camus, Friedrich Nietzsche, Jean-Paul Sartre, Yukio Mishima, Sigmund Freud e Aleksandr Solzhenitsyn.
assinatura:
DOSTOIÉVSKI E NIETZSCHE DO HOMEM-DEUS AO SUPER-HOMEM
Dostoiévski e NietzscheDo homem-deus ao super-homem
F.Dostoiévski (1821-1881)
Os privilégios do homem excepcional
"[...] é permitido a todo indivíduo que tenha consciência da verdade regularizar sua vida como bem entender, de acordo com os novos princípios. Neste sentido, tudo é permitido [...] Como Deus e a imortalidade não existem, é permitido ao homem novo tornar-se um homem-deus, seja ele o único no mundo a viver assim." - F. Dostoiévski - O diálogo com o demônio (in Irmãos Karamazov, 1879)O jovem estudante Raskolhnikov angustiava-se no seu pequeno quarto, na verdade uma gaiola desbotada que o sufocava. Ali matutava como um ser dotado de inteligência reconhecidamente superior, como a dele, estava reduzido àquela vida miserável, sem tostão e sem futuro enquanto que, naquela mesma cidade de São Petersburgo, a capital do império russo, à bem poucas quadras dali, uma velha usurária, chamada Aliona Ivanovna podia entregar-se livremente à exploração de desgraçados como ele. Porque não eliminar aquele ser parasitário, inútil, e utilizar-se do seu dinheiro para sair daquela situação apremiante, salvando também sua mãe e sua irmã, reduzidas ao opróbrio? Foi nestas circunstâncias terríveis que o jovem estudante desenvolveu sua doutrina do "direito ao crime", na qual todo aquele que se sente além das convenções tradicionais acerca do bem e do mal, que percebe-se mais forte do que os demais homens, na verdade tem "direito a tudo", inclusive o direito de eliminar os que considera estorvantes e prejudiciais ao seu objetivo, pois o homem extraordinário deve, obediente às exigências do seu ideal, "ultrapassar certas barreiras tão longe quanto possível".
O surgimento do homem-idéia
Esta é a essência da novela que F. Dostoiévski publicou em 1867 com o título de Crime e castigo. Uns anos depois ele manifestaria ainda seu fascínio por este tipo de personagem, pelo homem-idéia, pelo ateu que vive de acordo com suas próprias regras, indiferente ao sofrimento que suas ações possam provocar. Esse personagem típico da era moderna reaparece em Os demônios, de 1870, nas roupagens do jovem aristocrata, o barin Nikolai Stavroguin. Como líder de um grupo subversivo (acredita-se que esse personagem tenha sido inspirado no terrorista Netcháiev) que conspira contra as autoridades no seu lugarejo natal. Para atingir seu fim de atacar a ordem social todos os caminhos são válidos, inclusive o premeditado e brutal assassinato de um jovem conjurado arrependido. Tempos antes, quando morava na capital, Stavroguin não hesitou em praticar pequenos roubos e em molestar sexualmente uma menina.
O homem-idéia (gravura de Luís de Ben, in "Os Demônios)
O homem-idéia (gravura de Luís de Ben, in "Os Demônios)
"Se Deus não existe....."
Pouco antes de morrer, Dostoiévski voltou novamente ao homem-idéia pois entendia-o como a encarnação maléfica das pulsões modernas; o ateísmo, o liberalismo, o socialismo e o niilismo, que ameaçavam sua Santa Rússia ortodoxa. Desta vez esse personagem ressurge nos Irmãos Karamazov, de 1879, na figura do filho mais velho de Fiodor Karamazov, Ivan. O pai, o velho Karamazov, um incorrigível libertino, um canalha completo, terminou assassinado por um servo, seu filho bastardo, chamado Smerdiakov, que confessa a Ivan que o que motivou para o crime foi um artigo que soube ter ele escrito no qual defendia a idéia de que "se Deus não existe, tudo é permitido". Na inexistência de um Criador, de um grande ser moral, o homicida Smerdiakov não se via um degenerado, nem mesmo um abominável parricida, mas sim um daqueles homem-deus aos quais tudo é possível. Aterrorizado pela confissão do seu meio-irmão, atacado por culpas mil, Ivan mergulha numa febre nervosa em que, em meio a uma alucinação, até o demônio dialoga com ele.
O ser ideológico
Dostoiévski foi o primeiro grande nome das letras do século passado a perceber a emergência do moderno homem-idéia, dos seres ideológicos, os quais vivem, matam e morrem em função de uma causa desvinculada de injunções religiosas. Como cristão convicto, chegando por vezes ao fundamentalismo, tentou combatê-los fazendo com que, em seus romances, eles se vissem atacados por terríveis dilacerações depois de terem cometido seus crimes, mostrando-os vítimas de delírios, de convulsões, tendo sua vida transformada num inferno. O jovem Raskolhnikov entrega-se à polícia e, na prisão, dá os primeiros passos para reencontrar-se com o Cristianismo. Nikolai Stavroguin, deixando uma impressionante confissão, suicida-se, enquanto que Ivan Karamazov simplesmente enlouquece, arrasado pelas conseqüências do seu artigo ateu.
Nietzsche e o super-homem
Nietzsche e o super-homem
Nietzsche, porém, um confesso admirador de Dostoiévski, quase no mesmo momento em que o grande russo baixava à sepultura, em 1881, chegou à conclusões totalmente opostas ao grande russo quando iniciou a redação de Assim falou Zaratustra. A sua concepção de super-homem parece-me extraída diretamente daquelas novelas. Ateu militante, Nietzsche tirou as conseqüências últimas do homem-deus, não visualizando para ele nenhum grande tormento caso ele seguisse o seu ideário até o fim. Ao contrário, previu e enalteceu o homem-idéia que, em função da sua causa seria uma máquina de insensibilidade, trafegando, altaneiro, bem acima dos preceitos morais do seu tempo. Fazendo novas regras restritas a uma elite, o Übermensch teria seu comportamento a amoral regulado apenas pela sua inata vontade de domínio - Wille zur Macht - e por uma compulsiva sede de vida.
Uma nova ordem
Uma nova casta se formaria em torno de princípios e identificações comuns, uma nova Ordem dos Templários, composta por seres que não só "saibam viver mais além dos credos políticos e religiosos, senão que também hajam superado a moral." Podiam fazer o que lhes desse na telha, sem receio de qualquer tipo de punição supersticiosa. Nietzsche, antes de Freud, aboliu o pecado. E assim foi feito. Os homens-idéia do nosso século, os nazi-fascistas, os comunistas, os liberal-imperialistas, transformaram nosso mundo numa grande arena ideológica, eliminando dela tudo aquilo que, em algum momento, lhes pareceu adverso, dissidente, parasitário, bizarro, nocivo, atrasado ou banal... a maioria deles sem esboçar um remordimento sequer. Nietzsche, em essência, nada mais fez do que transpor para a filosofia o discurso do demônio relatado por Dostoiévski, o que não lhe causou nenhum constrangimento moral, porque, afinal, se Deus não existe, também não há Satanás.
Nietzsche (1844-1900)Consta que Nietzsche foi internado depois de um estranho acidente em que se envolveu em Turim, em janeiro de 1889. Ao ver da sua janela um pobre cavalo ser brutalmente espancado pelo dono, interpôs-se entre o carroceiro e o animal, envolvendo-o com um abraço, beijando-lhe o focinho em lágrimas. Repetia, inconscientemente, a cena descrita no sonho de Raskolhnikov; quando aquele, ainda criança, enlaça e beija a carcaça ensangüentada de uma égua brutalizada por um bando de bêbados. Foi a última homenagem de Nietzsche, já demente, fez à ficção de Dostoiévski. Conduziram-no primeiro para um sanatório na Basiléia, do qual foi removido para Naumburg, aos cuidados da mãe. Em 1897, com ela morta, sua irmã Elizabeth levou-o para Weimar, onde faleceu em 25 de agosto de 1900.
FONTE:http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_dostoievski.htm
FONTE:http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_dostoievski.htm
12 de set. de 2008
LUCINDA PERSONA
Biografia
Lucinda Nogueira Persona é paranaense de Arapongas. Passou a infância em Marialva, PR. Vive em Cuiabá, MT, desde 1965. Bióloga pela Universidade Federal de Mato Grosso e Mestre em Histologia e Embriologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professora da UFMT até aposentar-se. Atualmente, é professora de Histologia em cursos da área da Saúde (Farmácia e Bioquímica, Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia e Medicina Veterinária) na Universidade de Cuiabá. Escreve desde a infância. Fez estréia na poesia com a obra Por imenso gosto (São Paulo: Massao Ohno, 1995), com a qual obteve Prêmio especial do Júri "Concurso Cecília Meireles", União Brasileira de Escritores. Seguiram-se outras publicações, poesia e literatura infanto-juvenil. Com a obra poética mais recente, Sopa escaldante (Rio de Janeiro: 7Letras, 2001), recebeu o Prêmio Cecília Meireles 2002, União Brasileira de Escritores. Participou da antologia de contos Na margem esquerda do rio: contos de fim de século (São Paulo: Via Lettera, 2002). Colabora com jornais mato-grossenses (A Gazeta, Diário de Cuiabá, A Folha do Estado) escrevendo resenhas, crônicas e contos.
Bibliografia
POR IMENSO GOSTO. São Paulo: Massao Ohno Editor – 1995 – Poesia.
ELE ERA DE OUTRO MUNDO. Cuiabá: Tempo Presente – 1997 – Infanto-juvenil.
SER COTIDIANO. Rio de Janeiro: 7Letras – 1998 – Poesia.
A CIDADE SEM SOL. Rio de Janeiro: Razão Cultural – 2000 – Infanto-juvenil.
SOPA ESCALDANTE.. Rio de Janeiro: 7Letras – 2001 – Poesia.
Lucinda Nogueira Persona é paranaense de Arapongas. Passou a infância em Marialva, PR. Vive em Cuiabá, MT, desde 1965. Bióloga pela Universidade Federal de Mato Grosso e Mestre em Histologia e Embriologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professora da UFMT até aposentar-se. Atualmente, é professora de Histologia em cursos da área da Saúde (Farmácia e Bioquímica, Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia e Medicina Veterinária) na Universidade de Cuiabá. Escreve desde a infância. Fez estréia na poesia com a obra Por imenso gosto (São Paulo: Massao Ohno, 1995), com a qual obteve Prêmio especial do Júri "Concurso Cecília Meireles", União Brasileira de Escritores. Seguiram-se outras publicações, poesia e literatura infanto-juvenil. Com a obra poética mais recente, Sopa escaldante (Rio de Janeiro: 7Letras, 2001), recebeu o Prêmio Cecília Meireles 2002, União Brasileira de Escritores. Participou da antologia de contos Na margem esquerda do rio: contos de fim de século (São Paulo: Via Lettera, 2002). Colabora com jornais mato-grossenses (A Gazeta, Diário de Cuiabá, A Folha do Estado) escrevendo resenhas, crônicas e contos.
Bibliografia
POR IMENSO GOSTO. São Paulo: Massao Ohno Editor – 1995 – Poesia.
ELE ERA DE OUTRO MUNDO. Cuiabá: Tempo Presente – 1997 – Infanto-juvenil.
SER COTIDIANO. Rio de Janeiro: 7Letras – 1998 – Poesia.
A CIDADE SEM SOL. Rio de Janeiro: Razão Cultural – 2000 – Infanto-juvenil.
SOPA ESCALDANTE.. Rio de Janeiro: 7Letras – 2001 – Poesia.
Tuiuiú (Lucinda Persona)
faço histórias, ponderações, estudos
explicação comum de tuiuiú em tenho:
ele passou da conta no crescer
o tuiuiú, quando acorda e abre as asas,
ultrapassa as bordas do amanhecer
deste modo,o espaço aéreo só comporta um.
O tuiuiú é tão grande, tão grande que
ao levantar vôo
o céu sai de perto.
Por fim, Senhor meu, por fim
quando um tuiuiú vai a óbito
(por nesta vida não falta adversidade)
quando um tuiuiú vai a óbito,
as borboletas requisitam guindaste
(pelo meno para as penas - do lado do coração).
Foto: Deborah
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