Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga
`Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.
16 de dez. de 2008
27 de nov. de 2008
Resumo de livro/ DOM CASMURRO - Machado de Assis
O narrador inicia o livro justificando o título e por que resolveu escrevê-lo. Chama-se Dom Casmurro, pois foi um apelido dado ao personagem principal Bento Santiago, e diz que escreve por falta do que fazer. Bento era filho de D. Glória, uma mulher bondosa. Vivia em sua casa em Matacavalos junto com seu tio Cosme que havia enviuvado, sua prima Justina também viúva e um agregado, José Dias. Seu pai já havia morrido. Dona Glória que havia perdido o primeiro filho fez uma promessa a Deus, que se lhe abençoace com um filho vivo este iria para o seminário quando fosse o tempo e tornaria padre. Nasceu-lhe Bento. Quando ele tinha seus quinze anos foi lembrada a sua mãe a promessa que fizera e que já era tempo de cumpri-la. Bento sabendo da sua partida próxima para o seminário foi ter com sua amiga, Capitu. Os dois eram amigos de infância e dessa amizade nasceu um amor. Ele lhe contou sobre a promessa e os dois desde já começeram a lutar buscando formas de evitar a separação que viria. Decidiram então pedir que José Dias lutasse por eles. Certo dia ao visitar Capitu, Bento lhe penteou os cabelos, ao terminar acabaram se beijando. O romance deles ia crescendo e tomando forças, e a ida ao seminário trazia o medo da separação, em uma tarde então juraram um ao outro que se casariam. O novo ano chegou e Bento foi para o seminário. Lá fez um amigo, Escobar, foi o único com quem cogitou contar a jura feita à Capitu, mas essa não lhe permitiu. Sempre aos sábados ele retornava a sua casa onde revia seus familiares e Capitu. D. Glória e Capitu se aproximavam e isso alegrava Bento que via a aprovação de sua mãe. Escobar logo passou a frequentar a casa dele e toda a família aprovou. Era agora amigo de Capitu também. Sendo assim, estanto os dois no seminário trocaram segredos, Bento lhe contou sobre o seu juramento e Esobar lhe contou que também não seria padre, amava o comércio. Em uma das visitas, Bentinho teve por Capitu um acesso de ciúme acreditando que ela lhe traia apenas por olhar com um rapaz que passava na rua. Capitu lhe disse que por mais uma lhe rompia o juramento. A essa altura D. Glória queria que Bento voltasse. Muitos planos para o abandono da promessa vieram, por fim ela tomou um orfão e esse foi encaminhado ao seminário, Bentinho aos vinte e dois anos era bacharel em Direito. Como tinha a aprovação da mãe casou-se com Capitu e foram pra Tijuca. Escobar havia casado com Sancha, uma grande amiga de Capitu, sendo assim se alternavam entre jantares na Tijuca e no Flamengo. Escobar logo foi pai de uma menina, mas a Bento não vinha essa benção. Até que esse foi pai de um filho único, Ezequiel. O tempo passava o menino crescia e tinha mania de imitar os outros, mania que tentavam lhe tirar, mas sem sucesso. Escobar morreu, durante seu velório Bentinho notou em Capitu um sentimento diferente embora ela não tenha chorado, a viúva de Escobar partiu para o Paraná com a filha. Ezequiel ia crescendo e nele se via Escobar rapaz. Bento via no filho o jeito de andar, rir, conversar, comer do amigo morto. O ciúme e a dúvida acerca de uma traição que se comprovava na igualdade de Ezequiel com Escobar pôs fim na família Santiago. Bento se mantinha longe e recluso, Ezequiel acabou indo para um colégio de onde só voltava aos sábados. E era nos dias de sua volta que Bento fugia de casa, ver o filho era comprovar a traição que sofrera. Bento já atorduado resolve suicidar, tentou, mas abandonou o plano. Por fim foram para Europa de onde apenas ele regressou, vivia então só, e às vezes viajava até a Europa apenas como disfarçe ao povo que lhe perguntava sobre a mulher e o filho, quando ia lá não os procurava. As correspondências que trocava com Capitu eram breves e secas, já as dela não. Sua mãe, tio Cosme, José Dias todos se foram. Este último antes de ver o regresso de Ezequiel. Ele voltou, Capitu havia morrido e estava enterrada nas terras da Suiça. Ver Ezequiel era ver Escobar, no jeito de rir, comer, falar, andar, em tudo. Mesmo assim Bento fez o papel de pai, financiou lhe uma viagem à Grécia, Egito e Palestina, pois Ezequiel amava a arqueologia. Ao fim, Ezequiel morreu de febre tifóide, foi enterrado em Jerusalém com as palavras “tu eras perfeito nos teus caminhos”. Dom Casmurro apenas conclui que sua maior amiga e seu melhor amigo foram unidos pelo destino e enganaram-o.
Por Rebeca Cabral
Por Rebeca Cabral
FONTE:http://www.vestibular.brasilescola.com/resumos-de-livros/dom-casmurro.htm
30 de set. de 2008
Sábias palavras do filósofo Friedrich Nietzsche,
"Criar é a grande emancipação da dor e o alívio da vida;
mas para o criador existir são necessárias muitas dores e transformações.
Sim, criadores, é mister que haja na vossa vida muitas mortes amargas.
Sereis assim os defensores e justificadores de tudo o que é perecível.
Para o criador ser o filho que renasce, é preciso que queira ser a mãe
com as dores de mãe."
Friedrich Nietzsche, do livro Assim Falou Zaratustra
mas para o criador existir são necessárias muitas dores e transformações.
Sim, criadores, é mister que haja na vossa vida muitas mortes amargas.
Sereis assim os defensores e justificadores de tudo o que é perecível.
Para o criador ser o filho que renasce, é preciso que queira ser a mãe
com as dores de mãe."
Friedrich Nietzsche, do livro Assim Falou Zaratustra
13 de set. de 2008
NIETZSCHE, UM DOS PENSADORES MAIS PROVOCATIVOS DA FILOSOFIA MODERNA
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE
(1844-1900)
Filósofo alemão
Em 15 de outubro de 1844 nasce Friedrich Wilhelm Nietzsche, na cidade de Rocken, nas proximidades de Lutzen (Saxônia). Nietzsche inicia sua informação universitária na Universidade de Bonn, em filologia clássica, tendo como professor Friedrich Ritschl. Sofre influências deste professor, tendo início aí sua liberdade de olhar para a realidade, percebendo a seriedade nas coisas do dia-a-dia, distinguindo o real do irreal, adquirindo paciência frente suas buscas na vida. Advém daí também, o aprendizado essencial do estudioso, que é a paixão que o move e o torna íntegro intelectualmente. É indicado por Ritschl para lecionar na Universidade da Basiléia, sem haver concluído seus estudos. Diante desta indicação, Nietzsche recebe o título de Doutor pela Universidade de Lerpzing sem haver realizado exames. Este filósofo participou da Guerra Franco-Prussiana como enfermeiro voluntário (agosto a outubro de 1870). Herda, desta época, uma série de enfermidades que o acompanharão até o final de sua vida. Em 3 de janeiro de 1900 Nietzsche enlouquece e caí pelas ruas de Turim, iniciando aí um momento trágico em sua vida. Foi internado na Basiléia onde foi diagnosticado "paralisia progressiva". Nietzsche passou a assinar "O Crucuficado", "Dionísio". Provavelmente de origem sifilítica, a moléstia progrediu até a apatia e agonia. Passou a ser cuidado inicialmente por sua mãe que vem a falecer, e posteriormente por sua irmã. Falece a 25 de agosto de 1900 em Weimar. Sua vida foi marcada por episódios de profunda solidão, euforia e depressão. Além de filologia, Nietzsche estudou também filosofia e teologia. Foi leitor de Schiller, Fichte, Holderlin, Byron, Platão , Ésquilo, entre outros. Leu também Dostoievski. Identificava-se com a música do compositor Wagner e sentiu-se atraído pelo ateísmo de Schopenhauer. Criticava Sócrates por considerar sua influência racionalista, "decadente". Acreditava que com Sócrates, a Grécia antiga e a sua força criadora tiveram seu fim. Interpreta as obras de Wagner como o renascimento da grande arte grega, mas muda de opinião ao identificar neste compositor influências pessimistas de Schopenhauer e, assim, rompe com os dois. O conteúdo da filosofia de Nietzsche vem de sua própria contemplação do mundo, combinado com o método filológico e não da leitura e estudo de obras de outros filósofos. Filosofia, para este pensador, é uma questão de máxima seriedade, não sendo concebida como uma aquisição intelectual, e sim como uma visão de como o homem deve viver. A filosofia é capaz de determinar a natureza do mundo experimental e dos padrões relativos a racionalidade, que constituem e regulam a existência humana. Seu pensamento, orienta-se para a investigação empírica da existência humana. Concebe que o homem é estranho a ele mesmo e sua tarefa é de alcançar sua verdadeira existência, não deixando que ela resuma-se à um simples acontecimento insignificante. A filosofia de Nietzsche propõe uma inversão das idéias filosóficas e dos valores morais tradicionais. Procura criar um espaço ilimitado através do levantamento de questões críticas diante do que já está estabelecido. Para ele, não há verdade a respeito das coisas, somente diferentes interpretações possíveis da realidade, e por isso tudo passa a ser possível. Cabe a cada um dos homens interpretar estas sugestões de interpretações. Nietzsche considera o homem do destino como aquele que é capaz de contradizer o que está estabelecido, e através desta atitude acredita ter algo de novo a anunciar: contradiz o positivismo e sua crença no fato; contradiz os idealistas e historicistas; contradiz o espiritualismo e proclama a morte de Deus; contradiz a moral dos escravos e exalta a moral dos aristocratas; etc. A auto-contradição tem um papel importante para ele, pois para cada afirmação que faz, afirma também o seu contrário. Considera que a verdade das coisas está presente nas questões que dirigem-se à elas e não nas afirmações que se possa fazer a respeito delas. Isto aponta sua paixão pela aventura, pela incerteza e pelas coisas que ainda não foram descobertas, identificadas. Nietzsche define o niilismo da seguinte forma: "a conseqüência necessária do cristianismo, da moral e do conceito de verdade da filosofia." Através desta definição, Nietzsche usa o niilismo para qualificar sua oposição aos valores morais tradicionais e as tradicionais crenças metafísicas. Disto surge a idéia da "morte de Deus". Para o autor, Deus não passa de uma conjectura, e por assim ser o homem não pode vê-lo, ouvi-lo, etc. O Deus cristão, é para Nietzsche, um Deus que parece diminuir o valor e o significado do homem, desvaloriza o mundo e a vida na Terra em nome de sua própria glória. Este pensador questiona se é possível que haja valores universalmente válidos e uma vida significativa em um mundo sem Deus. Ao final, Nietzsche encontra no homem a fonte de seus próprios valores, sendo ela a medida de todas as coisas, surgindo assim a noção de "super-homem". Este ama a vida, cria o sentido da Terra, pois possuí a vontade de potência. O autor acaba por superar o niilismo ao desligar-se da idéia de que a existência seria uma fonte de sofrimento para o homem, como queria o cristianismo. Através do uso de aforismos e de poemas, Nietzsche trouxe grande contribuição à filosofia moderna. Seu aforismo é a possibilidade de existirem ao mesmo tempo a interpretação de algo e o que está sendo interpretado. O poema é ao mesmo tempo a possibilidade de avaliar algo e a própria coisa a ser avaliada. O autor considera que o filósofo deveria ser possuidor destas duas formas de expressão. Suas principais obras são: "O Nascimento da Tragédia" (1872); "Considerações Inatuais" (1873-1876); "Humano muito Humano" (1878 - refere-se ao rompimento com Wagner e seu distanciamento de Schopenhauer); "Aurora" (1881 - onde aparecem teses fundamentais de seu pensamento); "Gaia Ciência" (1882 - promete um novo destino para a humanidade); "Assim falou Zaratustra" (1883); "Além do Bem e do Mal" (1886); "A Genealogia da Moral" (1887); e em 1888: "O Caso Wagner"; "O Crepúsculo dos Ídolos"; "O Anticristo"; "Ecco Homo"; "Nietzsche contra Wagner" e sua última obra inconclusa "Vontade de Poder". Todo o seu pensamento exerce forte influência sobre a literatura, psicanálise, estética, filosofia, reflexão moral e filosofia da religião.
Acontecimentos culturais e históricos:
1843 - Kierkegaard - "Autaut" J.S.Mill - "Sistema da Lógica"
(1844-1900)
Filósofo alemão
Em 15 de outubro de 1844 nasce Friedrich Wilhelm Nietzsche, na cidade de Rocken, nas proximidades de Lutzen (Saxônia). Nietzsche inicia sua informação universitária na Universidade de Bonn, em filologia clássica, tendo como professor Friedrich Ritschl. Sofre influências deste professor, tendo início aí sua liberdade de olhar para a realidade, percebendo a seriedade nas coisas do dia-a-dia, distinguindo o real do irreal, adquirindo paciência frente suas buscas na vida. Advém daí também, o aprendizado essencial do estudioso, que é a paixão que o move e o torna íntegro intelectualmente. É indicado por Ritschl para lecionar na Universidade da Basiléia, sem haver concluído seus estudos. Diante desta indicação, Nietzsche recebe o título de Doutor pela Universidade de Lerpzing sem haver realizado exames. Este filósofo participou da Guerra Franco-Prussiana como enfermeiro voluntário (agosto a outubro de 1870). Herda, desta época, uma série de enfermidades que o acompanharão até o final de sua vida. Em 3 de janeiro de 1900 Nietzsche enlouquece e caí pelas ruas de Turim, iniciando aí um momento trágico em sua vida. Foi internado na Basiléia onde foi diagnosticado "paralisia progressiva". Nietzsche passou a assinar "O Crucuficado", "Dionísio". Provavelmente de origem sifilítica, a moléstia progrediu até a apatia e agonia. Passou a ser cuidado inicialmente por sua mãe que vem a falecer, e posteriormente por sua irmã. Falece a 25 de agosto de 1900 em Weimar. Sua vida foi marcada por episódios de profunda solidão, euforia e depressão. Além de filologia, Nietzsche estudou também filosofia e teologia. Foi leitor de Schiller, Fichte, Holderlin, Byron, Platão , Ésquilo, entre outros. Leu também Dostoievski. Identificava-se com a música do compositor Wagner e sentiu-se atraído pelo ateísmo de Schopenhauer. Criticava Sócrates por considerar sua influência racionalista, "decadente". Acreditava que com Sócrates, a Grécia antiga e a sua força criadora tiveram seu fim. Interpreta as obras de Wagner como o renascimento da grande arte grega, mas muda de opinião ao identificar neste compositor influências pessimistas de Schopenhauer e, assim, rompe com os dois. O conteúdo da filosofia de Nietzsche vem de sua própria contemplação do mundo, combinado com o método filológico e não da leitura e estudo de obras de outros filósofos. Filosofia, para este pensador, é uma questão de máxima seriedade, não sendo concebida como uma aquisição intelectual, e sim como uma visão de como o homem deve viver. A filosofia é capaz de determinar a natureza do mundo experimental e dos padrões relativos a racionalidade, que constituem e regulam a existência humana. Seu pensamento, orienta-se para a investigação empírica da existência humana. Concebe que o homem é estranho a ele mesmo e sua tarefa é de alcançar sua verdadeira existência, não deixando que ela resuma-se à um simples acontecimento insignificante. A filosofia de Nietzsche propõe uma inversão das idéias filosóficas e dos valores morais tradicionais. Procura criar um espaço ilimitado através do levantamento de questões críticas diante do que já está estabelecido. Para ele, não há verdade a respeito das coisas, somente diferentes interpretações possíveis da realidade, e por isso tudo passa a ser possível. Cabe a cada um dos homens interpretar estas sugestões de interpretações. Nietzsche considera o homem do destino como aquele que é capaz de contradizer o que está estabelecido, e através desta atitude acredita ter algo de novo a anunciar: contradiz o positivismo e sua crença no fato; contradiz os idealistas e historicistas; contradiz o espiritualismo e proclama a morte de Deus; contradiz a moral dos escravos e exalta a moral dos aristocratas; etc. A auto-contradição tem um papel importante para ele, pois para cada afirmação que faz, afirma também o seu contrário. Considera que a verdade das coisas está presente nas questões que dirigem-se à elas e não nas afirmações que se possa fazer a respeito delas. Isto aponta sua paixão pela aventura, pela incerteza e pelas coisas que ainda não foram descobertas, identificadas. Nietzsche define o niilismo da seguinte forma: "a conseqüência necessária do cristianismo, da moral e do conceito de verdade da filosofia." Através desta definição, Nietzsche usa o niilismo para qualificar sua oposição aos valores morais tradicionais e as tradicionais crenças metafísicas. Disto surge a idéia da "morte de Deus". Para o autor, Deus não passa de uma conjectura, e por assim ser o homem não pode vê-lo, ouvi-lo, etc. O Deus cristão, é para Nietzsche, um Deus que parece diminuir o valor e o significado do homem, desvaloriza o mundo e a vida na Terra em nome de sua própria glória. Este pensador questiona se é possível que haja valores universalmente válidos e uma vida significativa em um mundo sem Deus. Ao final, Nietzsche encontra no homem a fonte de seus próprios valores, sendo ela a medida de todas as coisas, surgindo assim a noção de "super-homem". Este ama a vida, cria o sentido da Terra, pois possuí a vontade de potência. O autor acaba por superar o niilismo ao desligar-se da idéia de que a existência seria uma fonte de sofrimento para o homem, como queria o cristianismo. Através do uso de aforismos e de poemas, Nietzsche trouxe grande contribuição à filosofia moderna. Seu aforismo é a possibilidade de existirem ao mesmo tempo a interpretação de algo e o que está sendo interpretado. O poema é ao mesmo tempo a possibilidade de avaliar algo e a própria coisa a ser avaliada. O autor considera que o filósofo deveria ser possuidor destas duas formas de expressão. Suas principais obras são: "O Nascimento da Tragédia" (1872); "Considerações Inatuais" (1873-1876); "Humano muito Humano" (1878 - refere-se ao rompimento com Wagner e seu distanciamento de Schopenhauer); "Aurora" (1881 - onde aparecem teses fundamentais de seu pensamento); "Gaia Ciência" (1882 - promete um novo destino para a humanidade); "Assim falou Zaratustra" (1883); "Além do Bem e do Mal" (1886); "A Genealogia da Moral" (1887); e em 1888: "O Caso Wagner"; "O Crepúsculo dos Ídolos"; "O Anticristo"; "Ecco Homo"; "Nietzsche contra Wagner" e sua última obra inconclusa "Vontade de Poder". Todo o seu pensamento exerce forte influência sobre a literatura, psicanálise, estética, filosofia, reflexão moral e filosofia da religião.
Acontecimentos culturais e históricos:
1843 - Kierkegaard - "Autaut" J.S.Mill - "Sistema da Lógica"
1846 - Morton - anestesia com éter
1847 - Europa - crise econômico financeira
1848 - Revolução na Europa Primeira Guerra de Independência Italiana Marx-Engels - "Manifesto do Partido Comunista"
1856 - O congresso de Paris
1859 - A Segunda Guerra de Independência Italiana
1861 - Itália - Proclamação do Reino
1861-1865 - Estados Unidos - Guerra da Secessão
1865 - Estados Unidos - abolição da escravatura Morre Lincoln - vítima de atentado Mendel - a lei da hereditariedade Berhard - "Introdução ao Estudo da Medicina Experimental"
1866 - Estados Unidos - igualdade civil dos negros Guerra Austroprussiana
1867 - Marx - "O capital" volume 1
1869 - Abertura do Canal de Suez Estados Unidos - ferrovia transcontinental
1869-1870 - Concílio Vaticano I: infantilidade do papa
1870 - Guerra Francoprussiana
1871 - Proclamação do Império Germânico A Comuna de Paris Darwin - "A Origem do Homem"
1876 - Itália - esquerda no poder
1877 - Japão - fim do feudalismo Édison - fonógrafo e microfone
1878 - Leão XIII - papa Congresso de Berlim Édison - lâmpada elétrica Tolstói - "Ana Karenina"
1879 - Wundt - Instituto de Psicologia Experimental
1882 - Tríplice Aliança1885 - Conferência de Berlim
1888 - Brasil - abolição da escravatura
1890 - Wilde - "O Retrato de Dorian Gray"
1892 - Fundação do Partido Socialista Italiano Diesel - motor a diesel
1900 - Zeppelin - dirigível
1901 - Freud - "Psicopatologia da Vida Cotidiana"
FIÓDOR DOSTOIÉVSKI
Fiódor Mikhailovich Dostoiévski foi uma das maiores personalidades da literatura russa, tido como fundador do Realismo.Sua mãe morreu quando ele era ainda muito jovem e seu pai, o médico Mikhail Dostoievski, foi assassinato pelos próprios colonos de sua propriedade rural em Daravoi, que o julgavam autoritário. Esse fato exerceu enorme influência sobre o futuro do jovem Dostoiévski e motivou o polêmico artigo de Freud: "Dostoiévski e o Parricídio".Em São Petersburgo, Dostoiévski estudou engenharia numa escola militar e se entregou à leitura dos grandes escritores de sua época. Epilético, teve sua primeira crise depois de saber que seu pai fora assassinado. Sua primeira produção literária, aos 23 anos, foi uma tradução de Balzac ("Eugénie Grandet"). No ano seguinte escreveu seu primeiro romance, "Pobre Gente", que foi bem recebido pelo público e pela crítica.Em 1849 foi preso por participar de reuniões subversivas na casa de um revolucionário, e condenado à morte. No último momento, teve a pena comutada por Nicolau 1o e passou nove anos na Sibéria, quatro no presídio de Omsk e mais cinco como soldado raso. Descreveu a terrível experiência no livro "Recordações da Casa dos Mortos" e em "Memórias do Subsolo".Suas crises sistemáticas de epilepsia, que ele atribuía a "uma experiência com Deus", tiveram papel importante em suas crenças. Inspirado pelo cristianismo evangélico, passou a pregar a solidariedade como principal valor da cultura eslava. Em 1857 casou-se com Maria Dmitrievna Issaiev, uma viúva difícil e caprichosa. Dois anos depois retornou a Petersburgo. Em 1862 conheceu Polina Suslova, que viria a ser o seu romance mais profundo. Em 1864, viúvo de Maria, terminou seu caso com Polina e em 1867 casou-se com Anna Snitkina.Entre suas obras destacam-se: "Crime e Castigo", "O Idiota", "O Jogador", "Os Demônios", "O Eterno Marido" e "Os Irmãos Karamazov".Publicou também contos e novelas. Criou duas revistas literárias e ainda colaborou nos principais órgãos da imprensa Russa.Seu reconhecimento definitivo como escritor universal surgiu somente depois dos anos 1860, com a publicação dos grandes romances: "O Idiota" e "Crime e Castigo". Seu último romance, "Os Irmãos Karamazov", é considerado por Freud como o maior romance já escrito.
Nascimento
11 de Novembro de 1821Moscovo
Falecimento
9 de Fevereiro de 1881 (59 anos)São Petersburgo
Nacionalidade
Rússia
Ocupação
Romancista
Magnum opus
Crime e Castigo
Influências
Edgar Allan Poe, Victor Hugo, Charles Dickens, Miguel de Cervantes,[1] William Shakespeare, Aleksandr Pushkin e Leo Tolstoy.[2]
Influenciados
Marcel Proust, Franz Kafka, Albert Camus, Friedrich Nietzsche, Jean-Paul Sartre, Yukio Mishima, Sigmund Freud e Aleksandr Solzhenitsyn.
assinatura:
DOSTOIÉVSKI E NIETZSCHE DO HOMEM-DEUS AO SUPER-HOMEM
Dostoiévski e NietzscheDo homem-deus ao super-homem
F.Dostoiévski (1821-1881)
Os privilégios do homem excepcional
"[...] é permitido a todo indivíduo que tenha consciência da verdade regularizar sua vida como bem entender, de acordo com os novos princípios. Neste sentido, tudo é permitido [...] Como Deus e a imortalidade não existem, é permitido ao homem novo tornar-se um homem-deus, seja ele o único no mundo a viver assim." - F. Dostoiévski - O diálogo com o demônio (in Irmãos Karamazov, 1879)O jovem estudante Raskolhnikov angustiava-se no seu pequeno quarto, na verdade uma gaiola desbotada que o sufocava. Ali matutava como um ser dotado de inteligência reconhecidamente superior, como a dele, estava reduzido àquela vida miserável, sem tostão e sem futuro enquanto que, naquela mesma cidade de São Petersburgo, a capital do império russo, à bem poucas quadras dali, uma velha usurária, chamada Aliona Ivanovna podia entregar-se livremente à exploração de desgraçados como ele. Porque não eliminar aquele ser parasitário, inútil, e utilizar-se do seu dinheiro para sair daquela situação apremiante, salvando também sua mãe e sua irmã, reduzidas ao opróbrio? Foi nestas circunstâncias terríveis que o jovem estudante desenvolveu sua doutrina do "direito ao crime", na qual todo aquele que se sente além das convenções tradicionais acerca do bem e do mal, que percebe-se mais forte do que os demais homens, na verdade tem "direito a tudo", inclusive o direito de eliminar os que considera estorvantes e prejudiciais ao seu objetivo, pois o homem extraordinário deve, obediente às exigências do seu ideal, "ultrapassar certas barreiras tão longe quanto possível".
O surgimento do homem-idéia
Esta é a essência da novela que F. Dostoiévski publicou em 1867 com o título de Crime e castigo. Uns anos depois ele manifestaria ainda seu fascínio por este tipo de personagem, pelo homem-idéia, pelo ateu que vive de acordo com suas próprias regras, indiferente ao sofrimento que suas ações possam provocar. Esse personagem típico da era moderna reaparece em Os demônios, de 1870, nas roupagens do jovem aristocrata, o barin Nikolai Stavroguin. Como líder de um grupo subversivo (acredita-se que esse personagem tenha sido inspirado no terrorista Netcháiev) que conspira contra as autoridades no seu lugarejo natal. Para atingir seu fim de atacar a ordem social todos os caminhos são válidos, inclusive o premeditado e brutal assassinato de um jovem conjurado arrependido. Tempos antes, quando morava na capital, Stavroguin não hesitou em praticar pequenos roubos e em molestar sexualmente uma menina.
O homem-idéia (gravura de Luís de Ben, in "Os Demônios)
O homem-idéia (gravura de Luís de Ben, in "Os Demônios)
"Se Deus não existe....."
Pouco antes de morrer, Dostoiévski voltou novamente ao homem-idéia pois entendia-o como a encarnação maléfica das pulsões modernas; o ateísmo, o liberalismo, o socialismo e o niilismo, que ameaçavam sua Santa Rússia ortodoxa. Desta vez esse personagem ressurge nos Irmãos Karamazov, de 1879, na figura do filho mais velho de Fiodor Karamazov, Ivan. O pai, o velho Karamazov, um incorrigível libertino, um canalha completo, terminou assassinado por um servo, seu filho bastardo, chamado Smerdiakov, que confessa a Ivan que o que motivou para o crime foi um artigo que soube ter ele escrito no qual defendia a idéia de que "se Deus não existe, tudo é permitido". Na inexistência de um Criador, de um grande ser moral, o homicida Smerdiakov não se via um degenerado, nem mesmo um abominável parricida, mas sim um daqueles homem-deus aos quais tudo é possível. Aterrorizado pela confissão do seu meio-irmão, atacado por culpas mil, Ivan mergulha numa febre nervosa em que, em meio a uma alucinação, até o demônio dialoga com ele.
O ser ideológico
Dostoiévski foi o primeiro grande nome das letras do século passado a perceber a emergência do moderno homem-idéia, dos seres ideológicos, os quais vivem, matam e morrem em função de uma causa desvinculada de injunções religiosas. Como cristão convicto, chegando por vezes ao fundamentalismo, tentou combatê-los fazendo com que, em seus romances, eles se vissem atacados por terríveis dilacerações depois de terem cometido seus crimes, mostrando-os vítimas de delírios, de convulsões, tendo sua vida transformada num inferno. O jovem Raskolhnikov entrega-se à polícia e, na prisão, dá os primeiros passos para reencontrar-se com o Cristianismo. Nikolai Stavroguin, deixando uma impressionante confissão, suicida-se, enquanto que Ivan Karamazov simplesmente enlouquece, arrasado pelas conseqüências do seu artigo ateu.
Nietzsche e o super-homem
Nietzsche e o super-homem
Nietzsche, porém, um confesso admirador de Dostoiévski, quase no mesmo momento em que o grande russo baixava à sepultura, em 1881, chegou à conclusões totalmente opostas ao grande russo quando iniciou a redação de Assim falou Zaratustra. A sua concepção de super-homem parece-me extraída diretamente daquelas novelas. Ateu militante, Nietzsche tirou as conseqüências últimas do homem-deus, não visualizando para ele nenhum grande tormento caso ele seguisse o seu ideário até o fim. Ao contrário, previu e enalteceu o homem-idéia que, em função da sua causa seria uma máquina de insensibilidade, trafegando, altaneiro, bem acima dos preceitos morais do seu tempo. Fazendo novas regras restritas a uma elite, o Übermensch teria seu comportamento a amoral regulado apenas pela sua inata vontade de domínio - Wille zur Macht - e por uma compulsiva sede de vida.
Uma nova ordem
Uma nova casta se formaria em torno de princípios e identificações comuns, uma nova Ordem dos Templários, composta por seres que não só "saibam viver mais além dos credos políticos e religiosos, senão que também hajam superado a moral." Podiam fazer o que lhes desse na telha, sem receio de qualquer tipo de punição supersticiosa. Nietzsche, antes de Freud, aboliu o pecado. E assim foi feito. Os homens-idéia do nosso século, os nazi-fascistas, os comunistas, os liberal-imperialistas, transformaram nosso mundo numa grande arena ideológica, eliminando dela tudo aquilo que, em algum momento, lhes pareceu adverso, dissidente, parasitário, bizarro, nocivo, atrasado ou banal... a maioria deles sem esboçar um remordimento sequer. Nietzsche, em essência, nada mais fez do que transpor para a filosofia o discurso do demônio relatado por Dostoiévski, o que não lhe causou nenhum constrangimento moral, porque, afinal, se Deus não existe, também não há Satanás.
Nietzsche (1844-1900)Consta que Nietzsche foi internado depois de um estranho acidente em que se envolveu em Turim, em janeiro de 1889. Ao ver da sua janela um pobre cavalo ser brutalmente espancado pelo dono, interpôs-se entre o carroceiro e o animal, envolvendo-o com um abraço, beijando-lhe o focinho em lágrimas. Repetia, inconscientemente, a cena descrita no sonho de Raskolhnikov; quando aquele, ainda criança, enlaça e beija a carcaça ensangüentada de uma égua brutalizada por um bando de bêbados. Foi a última homenagem de Nietzsche, já demente, fez à ficção de Dostoiévski. Conduziram-no primeiro para um sanatório na Basiléia, do qual foi removido para Naumburg, aos cuidados da mãe. Em 1897, com ela morta, sua irmã Elizabeth levou-o para Weimar, onde faleceu em 25 de agosto de 1900.
FONTE:http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_dostoievski.htm
FONTE:http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_dostoievski.htm
12 de set. de 2008
LUCINDA PERSONA
Biografia
Lucinda Nogueira Persona é paranaense de Arapongas. Passou a infância em Marialva, PR. Vive em Cuiabá, MT, desde 1965. Bióloga pela Universidade Federal de Mato Grosso e Mestre em Histologia e Embriologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professora da UFMT até aposentar-se. Atualmente, é professora de Histologia em cursos da área da Saúde (Farmácia e Bioquímica, Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia e Medicina Veterinária) na Universidade de Cuiabá. Escreve desde a infância. Fez estréia na poesia com a obra Por imenso gosto (São Paulo: Massao Ohno, 1995), com a qual obteve Prêmio especial do Júri "Concurso Cecília Meireles", União Brasileira de Escritores. Seguiram-se outras publicações, poesia e literatura infanto-juvenil. Com a obra poética mais recente, Sopa escaldante (Rio de Janeiro: 7Letras, 2001), recebeu o Prêmio Cecília Meireles 2002, União Brasileira de Escritores. Participou da antologia de contos Na margem esquerda do rio: contos de fim de século (São Paulo: Via Lettera, 2002). Colabora com jornais mato-grossenses (A Gazeta, Diário de Cuiabá, A Folha do Estado) escrevendo resenhas, crônicas e contos.
Bibliografia
POR IMENSO GOSTO. São Paulo: Massao Ohno Editor – 1995 – Poesia.
ELE ERA DE OUTRO MUNDO. Cuiabá: Tempo Presente – 1997 – Infanto-juvenil.
SER COTIDIANO. Rio de Janeiro: 7Letras – 1998 – Poesia.
A CIDADE SEM SOL. Rio de Janeiro: Razão Cultural – 2000 – Infanto-juvenil.
SOPA ESCALDANTE.. Rio de Janeiro: 7Letras – 2001 – Poesia.
Lucinda Nogueira Persona é paranaense de Arapongas. Passou a infância em Marialva, PR. Vive em Cuiabá, MT, desde 1965. Bióloga pela Universidade Federal de Mato Grosso e Mestre em Histologia e Embriologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professora da UFMT até aposentar-se. Atualmente, é professora de Histologia em cursos da área da Saúde (Farmácia e Bioquímica, Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia e Medicina Veterinária) na Universidade de Cuiabá. Escreve desde a infância. Fez estréia na poesia com a obra Por imenso gosto (São Paulo: Massao Ohno, 1995), com a qual obteve Prêmio especial do Júri "Concurso Cecília Meireles", União Brasileira de Escritores. Seguiram-se outras publicações, poesia e literatura infanto-juvenil. Com a obra poética mais recente, Sopa escaldante (Rio de Janeiro: 7Letras, 2001), recebeu o Prêmio Cecília Meireles 2002, União Brasileira de Escritores. Participou da antologia de contos Na margem esquerda do rio: contos de fim de século (São Paulo: Via Lettera, 2002). Colabora com jornais mato-grossenses (A Gazeta, Diário de Cuiabá, A Folha do Estado) escrevendo resenhas, crônicas e contos.
Bibliografia
POR IMENSO GOSTO. São Paulo: Massao Ohno Editor – 1995 – Poesia.
ELE ERA DE OUTRO MUNDO. Cuiabá: Tempo Presente – 1997 – Infanto-juvenil.
SER COTIDIANO. Rio de Janeiro: 7Letras – 1998 – Poesia.
A CIDADE SEM SOL. Rio de Janeiro: Razão Cultural – 2000 – Infanto-juvenil.
SOPA ESCALDANTE.. Rio de Janeiro: 7Letras – 2001 – Poesia.
Tuiuiú (Lucinda Persona)
faço histórias, ponderações, estudos
explicação comum de tuiuiú em tenho:
ele passou da conta no crescer
o tuiuiú, quando acorda e abre as asas,
ultrapassa as bordas do amanhecer
deste modo,o espaço aéreo só comporta um.
O tuiuiú é tão grande, tão grande que
ao levantar vôo
o céu sai de perto.
Por fim, Senhor meu, por fim
quando um tuiuiú vai a óbito
(por nesta vida não falta adversidade)
quando um tuiuiú vai a óbito,
as borboletas requisitam guindaste
(pelo meno para as penas - do lado do coração).
Foto: Deborah
31 de jul. de 2008
Sinopse: "A filosofia da arte de Machado de Assis"
Prof. Patrick Pessoa (Doutor em Filosofia pelo IFCS/UFRJ, pós-doutorando PUC-Rio): "A filosofia da arte de Machado de Assis"Sinopse: A tentação de atribuir uma filosofia a um autor de ficção como Machado de Assis não é pequena. Afinal, sua obra é das mais pródigas em referências aos grandes vultos da história da filosofia, e não poucos dentre os seus personagens nutrem a pretensão de ser filósofos. Será, no entanto, que o simples fato de haver muitos filósofos e muitas filosofias na obra de Machado de Assis nos autoriza a falar em uma pretensa "filosofia de Machado de Assis"?Como será discutido na palestra, há algo de paradoxal na tentativa de muitos dos críticos da obra machadiana de lhe conferirem maior respeitabilidade atribuindo a seu autor uma filiação filosófica determinada, seja aos céticos, aos moralistas franceses ou a Schopenhauer. Ao defenderem a idéia de que a grandeza de um autor de ficção está associada ao fato de possuir uma filosofia, tais críticos, conscientemente ou não, acabam por rebaixar a literatura, convertendo-a em mera ilustração da "profundidade" dos filósofos. Ao mesmo tempo, porém, eis o paradoxo, tampouco fazem jus à dignidade da filosofia, que consiste justamente na prontidão para investigar o óbvio, para questionar os próprios pressupostos. Sob essa ótica, uma abordagem da filosofia de Machado de Assis que seja ela própria filosófica deve antes de mais nada formular a seguinte questão: como é possível abordar filosoficamente um clássico da literatura como as Memórias póstumas de Brás Cubas sem desconsiderar a proximidade entre filosofia e literatura e ao mesmo tempo sem negligenciar a sua diferença?
30 de jul. de 2008
SOLIDARIEDADE - RUBEM ALVES
Se te perguntarem quem era essa que às areias e gelos quis ensinar a primavera...": é assim que Cecília Meireles inicia um dos seus poemas. Ensinar primavera às areias e gelos é coisa difícil. Gelos e areias nada sabem sobre primaveras... Pois eu desejaria saber ensinar a solidariedade a quem nada sabe sobre ela. O mundo seria melhor. Mas como ensiná-la?
Será possível ensinar a beleza de uma sonata de Mozart a um surdo? Como? - se ele não ouve. E poderei ensinar a beleza das telas de Monet a um cego? De que pedagogia irei me valer para comunicar cores e formas a quem não vê? Há coisas que não podem ser ensinadas. Há coisas que estão além das palavras. Os cientistas, filósofos e professores são aqueles que se dedicam a ensinar as coisas que podem ser ensinadas. Coisas que podem ser ensinadas são aquelas que podem ser ditas. Sobre a solidariedade muitas coisas podem ser ditas. Por exemplo: acho possível desenvolver uma psicologia da solidariedade. Acho também possível desenvolver uma sociologia da solidariedade. E, filosoficamente, uma ética da solidariedade... Mas os saberes científicos e filosóficos da solidariedade não ensinam a solidariedade, da mesma forma como a crítica da música e da pintura não ensina às pessoas a beleza da música e da pintura. A beleza é inefável; está além das palavras.
Palavras que ensinam são gaiolas para pássaros engaioláveis. Os saberes, todos eles, são pássaros engaiolados. Mas a solidariedade é um pássaro que não pode ser engaiolado. Ela não pode ser dita. A solidariedade pertence a uma classe de pássaros que só existem em vôo. Engaiolados, esses pássaros morrem.
A beleza é um desses pássaros. A beleza está além das palavras. Walt Whitman tinha consciência disso quando disse: "Sermões e lógicas jamais convencem. O peso da noite cala bem mais fundo em minha alma..." Ele conhecia os limites das suas próprias palavras. E Fernando Pessoa sabia que aquilo que o poeta quer comunicar não se encontra nas palavras que ele diz: ela aparece nos espaços vazios que se abrem entre elas, as palavras. Nesse espaço vazio se ouve uma música. Mas essa música - de onde vem ela se não foi o poeta que a tocou?
Não é possível fazer uma prova colegial sobre a beleza porque ela não é um conhecimento. E nem é possível comandar a emoção diante da beleza. Somente atos podem ser comandados. Ordinário! Marche!", o sargento ordena. Os recrutas obedecem. Marcham. À ordem segue-se o ato. Mas sentimentos não podem ser comandados. Não posso ordenar que alguém sinta a beleza que estou sentindo.
O que pode ser ensinado são as coisas que moram no mundo de fora: astronomia, física, química, gramática, anatomia, números, letras, palavras. Mas há coisas que não estão do lado de fora. Coisas que moram dentro do corpo. Enterradas na carne, como se fossem SEMENTES À ESPERA...
Sim, sim! Imagine isso: o corpo como um grande canteiro! Nele se encontram, adormecidas, em estado de latência, as mais variadas sementes - lembre-se da estória da Bela Adormecida! Elas poderão acordar, brotar. Mas poderão também não brotar. Tudo depende... As sementes não brotarão se sobre elas houver uma pedra. E também pode acontecer que, depois de brotar, elas sejam arrancadas... De fato, muitas plantas precisam ser arrancadas, antes que cresçam. Nos jardins há pragas: tiriricas, picões...
Uma dessas sementes tem o nome de "solidariedade". A solidariedade não é uma entidade do mundo de fora, ao lado de estrelas, pedras, mercadorias, dinheiro, contratos. Se ela fosse uma entidade do mundo de fora ela poderia ser ensinada. A solidariedade é uma entidade do mundo interior. Solidariedade nem se ensina, nem se ordena, nem se produz. A solidariedade, semente, tem de nascer.
Veja o ipê florido! Nasceu de uma semente. Depois de crescer não será necessária nenhuma técnica, nenhum estímulo, nenhum truque para que ele floresça. Angelus Silésius, místico antigo, tem um verso que diz: " A rosa não tem por quês. Ela floresce porque floresce." O ipê floresce porque floresce. Seu florescer é um simples transbordar natural da sua verdade.
A solidariedade é como o ipê: nasce e floresce. Mas não em decorrência de mandamentos éticos ou religiosos. Não se pode ordenar: "Seja solidário!" Ela acontece como simples transbordamento. Da mesma forma como o poema é um transbordamento da alma do poeta e a canção um transbordamento da alma do compositor...
Disse que solidariedade é um sentimento. É esse o sentimento que nos torna humanos. É um sentimento estranho - que perturba nossos próprios sentimentos. A solidariedade me faz sentir sentimentos que não são meus, que são de um outro. Acontece assim: eu vejo uma criança vendendo balas num semáforo. Ela me pede que eu compre um pacotinho das suas balas. Eu e a criança - dois corpos separados e distintos. Mas, ao olhar para ela, estremeço: algo em mim me faz imaginar aquilo que ela está sentindo. E então, por uma magia inexplicável, esse sentimento imaginado se aloja junto aos meus próprios sentimentos. Na verdade, desaloja meus sentimentos, pois eu vinha vindo, no meu carro, com sentimentos leves e alegres, e agora esse novo sentimento se coloca no lugar deles. O que sinto não são meus sentimentos. Foi-se a leveza e a alegria que me faziam cantar. Agora, são os sentimentos daquele menino que estão dentro de mim. Meu corpo sofre uma transformação: ele não é mais limitado pela pele que o cobre. Expande-se.
Ele está agora ligado a um outro corpo que passa a ser parte dele mesmo. Isso não acontece nem por decisão racional, nem por convicção religiosa e nem por um mandamento ético. É o jeito natural de ser do meu próprio corpo, movido pela solidariedade. Acho que esse é o sentido do dito de Jesus que temos de amar o próximo como amamos a nós mesmos. Pela magia do sentimento de solidariedade o meu corpo passa a ser morada do outro. É assim que acontece a bondade.
Mas fica pendente a pergunta inicial: como ensinar primaveras a gelos e areias? Para isso as palavras do conhecimento são inúteis. Seria necessário fazer nascer ipês no meio dos gelos e das areias! E eu só conheço uma palavra que tem esse poder: a palavra dos poetas. Ensinar solidariedade? Que se façam ouvir as palavras dos poetas nas igrejas, nas escolas, nas empresas, nas casas, na televisão, nos bares, nas reuniões políticas, e, principalmente, na solidão...
O menino me olhou com olhos suplicantes.
E, de repente, eu era um menino que olhava com olhos suplicantes...
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Será possível ensinar a beleza de uma sonata de Mozart a um surdo? Como? - se ele não ouve. E poderei ensinar a beleza das telas de Monet a um cego? De que pedagogia irei me valer para comunicar cores e formas a quem não vê? Há coisas que não podem ser ensinadas. Há coisas que estão além das palavras. Os cientistas, filósofos e professores são aqueles que se dedicam a ensinar as coisas que podem ser ensinadas. Coisas que podem ser ensinadas são aquelas que podem ser ditas. Sobre a solidariedade muitas coisas podem ser ditas. Por exemplo: acho possível desenvolver uma psicologia da solidariedade. Acho também possível desenvolver uma sociologia da solidariedade. E, filosoficamente, uma ética da solidariedade... Mas os saberes científicos e filosóficos da solidariedade não ensinam a solidariedade, da mesma forma como a crítica da música e da pintura não ensina às pessoas a beleza da música e da pintura. A beleza é inefável; está além das palavras.
Palavras que ensinam são gaiolas para pássaros engaioláveis. Os saberes, todos eles, são pássaros engaiolados. Mas a solidariedade é um pássaro que não pode ser engaiolado. Ela não pode ser dita. A solidariedade pertence a uma classe de pássaros que só existem em vôo. Engaiolados, esses pássaros morrem.
A beleza é um desses pássaros. A beleza está além das palavras. Walt Whitman tinha consciência disso quando disse: "Sermões e lógicas jamais convencem. O peso da noite cala bem mais fundo em minha alma..." Ele conhecia os limites das suas próprias palavras. E Fernando Pessoa sabia que aquilo que o poeta quer comunicar não se encontra nas palavras que ele diz: ela aparece nos espaços vazios que se abrem entre elas, as palavras. Nesse espaço vazio se ouve uma música. Mas essa música - de onde vem ela se não foi o poeta que a tocou?
Não é possível fazer uma prova colegial sobre a beleza porque ela não é um conhecimento. E nem é possível comandar a emoção diante da beleza. Somente atos podem ser comandados. Ordinário! Marche!", o sargento ordena. Os recrutas obedecem. Marcham. À ordem segue-se o ato. Mas sentimentos não podem ser comandados. Não posso ordenar que alguém sinta a beleza que estou sentindo.
O que pode ser ensinado são as coisas que moram no mundo de fora: astronomia, física, química, gramática, anatomia, números, letras, palavras. Mas há coisas que não estão do lado de fora. Coisas que moram dentro do corpo. Enterradas na carne, como se fossem SEMENTES À ESPERA...
Sim, sim! Imagine isso: o corpo como um grande canteiro! Nele se encontram, adormecidas, em estado de latência, as mais variadas sementes - lembre-se da estória da Bela Adormecida! Elas poderão acordar, brotar. Mas poderão também não brotar. Tudo depende... As sementes não brotarão se sobre elas houver uma pedra. E também pode acontecer que, depois de brotar, elas sejam arrancadas... De fato, muitas plantas precisam ser arrancadas, antes que cresçam. Nos jardins há pragas: tiriricas, picões...
Uma dessas sementes tem o nome de "solidariedade". A solidariedade não é uma entidade do mundo de fora, ao lado de estrelas, pedras, mercadorias, dinheiro, contratos. Se ela fosse uma entidade do mundo de fora ela poderia ser ensinada. A solidariedade é uma entidade do mundo interior. Solidariedade nem se ensina, nem se ordena, nem se produz. A solidariedade, semente, tem de nascer.
Veja o ipê florido! Nasceu de uma semente. Depois de crescer não será necessária nenhuma técnica, nenhum estímulo, nenhum truque para que ele floresça. Angelus Silésius, místico antigo, tem um verso que diz: " A rosa não tem por quês. Ela floresce porque floresce." O ipê floresce porque floresce. Seu florescer é um simples transbordar natural da sua verdade.
A solidariedade é como o ipê: nasce e floresce. Mas não em decorrência de mandamentos éticos ou religiosos. Não se pode ordenar: "Seja solidário!" Ela acontece como simples transbordamento. Da mesma forma como o poema é um transbordamento da alma do poeta e a canção um transbordamento da alma do compositor...
Disse que solidariedade é um sentimento. É esse o sentimento que nos torna humanos. É um sentimento estranho - que perturba nossos próprios sentimentos. A solidariedade me faz sentir sentimentos que não são meus, que são de um outro. Acontece assim: eu vejo uma criança vendendo balas num semáforo. Ela me pede que eu compre um pacotinho das suas balas. Eu e a criança - dois corpos separados e distintos. Mas, ao olhar para ela, estremeço: algo em mim me faz imaginar aquilo que ela está sentindo. E então, por uma magia inexplicável, esse sentimento imaginado se aloja junto aos meus próprios sentimentos. Na verdade, desaloja meus sentimentos, pois eu vinha vindo, no meu carro, com sentimentos leves e alegres, e agora esse novo sentimento se coloca no lugar deles. O que sinto não são meus sentimentos. Foi-se a leveza e a alegria que me faziam cantar. Agora, são os sentimentos daquele menino que estão dentro de mim. Meu corpo sofre uma transformação: ele não é mais limitado pela pele que o cobre. Expande-se.
Ele está agora ligado a um outro corpo que passa a ser parte dele mesmo. Isso não acontece nem por decisão racional, nem por convicção religiosa e nem por um mandamento ético. É o jeito natural de ser do meu próprio corpo, movido pela solidariedade. Acho que esse é o sentido do dito de Jesus que temos de amar o próximo como amamos a nós mesmos. Pela magia do sentimento de solidariedade o meu corpo passa a ser morada do outro. É assim que acontece a bondade.
Mas fica pendente a pergunta inicial: como ensinar primaveras a gelos e areias? Para isso as palavras do conhecimento são inúteis. Seria necessário fazer nascer ipês no meio dos gelos e das areias! E eu só conheço uma palavra que tem esse poder: a palavra dos poetas. Ensinar solidariedade? Que se façam ouvir as palavras dos poetas nas igrejas, nas escolas, nas empresas, nas casas, na televisão, nos bares, nas reuniões políticas, e, principalmente, na solidão...
O menino me olhou com olhos suplicantes.
E, de repente, eu era um menino que olhava com olhos suplicantes...
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19 de jul. de 2008
A DIFERENÇA ENTRE O AMOR E AMIZADE
A diferença entre amor e amizade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor dá-nos asas ,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade, com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero,
Mas quando o Amor é sincero,
vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos os sentimentos coexistem...
W. Shakespeare
EMBRIAGUE-SE
E se alguma vez sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de uma vala, na sombria solidão de teu quarto, tu te encontras com a embriaguez já minorada ou finda, peça ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo aquilo que gira, a tudo aquilo que voa, a tudo aquilo que canta, a tudo aquilo que fala, a tudo aquilo que geme. Pergunte que horas são.
E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, te responderão.
É hora de se embriagar !!!
Para não ser como os escravos martirizados do tempo, embriaga-te.
Embriaga-te sem cessar.
De vinho, de poesia ou de virtude. A teu gosto...
Charles Baudelaire
Charles Baudelaire
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:outra parte
delira.
Uma parte de mim
alomoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte_
que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?
Ferreira Gullar
CANTIGA PARA NÃO MORRER
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
Ferreira Gullar
ACEITARTÁS O AMOR COMO EU O ENCARO?
Aceitarás o amor como eu o encaro ?
......Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.
Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.
Mário de Andrade
......Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.
Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.
Mário de Andrade
16 de jul. de 2008
PESQUISA ENTRE UNIVERSITÁRIOS
PESQUISA Entre os dias 19 e 30 de maio de 2008 foi perguntado a 200 estudantes de letras de 10 universidades: Quais eram os melhores livros, de autores brasileiros, em todos os tempos? Cada participante poderia indicar um número máximo de 10 livros, podendo inclusive, indicar mais de um livro de um mesmo autor.
Participaram da pesquisa alunos do curso de letras da UFG, UNB, UCG, UEG, UNIP, UFRGS, UFRGS, UFRJ, USP. A pesquisa foi feita pelo Laboratório de Pesquisas de Opinião Pública e de Mercado e não tem valor científico.
1 - Macunaíma (1928) - Mário de Andrade - 134 citações
2 - Grande Sertão: Veredas (1956) - Guimarães Rosa - 123 citações
3 - A Paixão Segundo G.H. (1964) - Clarice Lispector - 118 citações
4 - Memórias póstumas de Brás Cubas (1880) - Machado de Assis - 99 citações
5 - Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) - Ariano Suassuna - 80 citações
6 - O Tempo e o Vento (1949) - Érico Veríssimo - 77 citações
7 - Poema Sujo (1976) - Ferreira Gullar - 61 citações
8 - Catatau (1975) - Paulo Leminski - 54 citações
9 - Os Cavalinhos de Platiplanto (1959) - José J. Veiga - 47 citações
10 - O Vampiro de Curitiba (1965) - Dalton Trevisan - 36 citações
© Copyright 2008 - Revista Bula — Política de Privacidade É permitida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia dos editores, desde que citada a fonte.Revista Brasileira de Literatura e Jornalismo Cultural - editorial@revistabula.comPowered By: Hugo Wantuil e Zé Carlos
Participaram da pesquisa alunos do curso de letras da UFG, UNB, UCG, UEG, UNIP, UFRGS, UFRGS, UFRJ, USP. A pesquisa foi feita pelo Laboratório de Pesquisas de Opinião Pública e de Mercado e não tem valor científico.
1 - Macunaíma (1928) - Mário de Andrade - 134 citações
2 - Grande Sertão: Veredas (1956) - Guimarães Rosa - 123 citações
3 - A Paixão Segundo G.H. (1964) - Clarice Lispector - 118 citações
4 - Memórias póstumas de Brás Cubas (1880) - Machado de Assis - 99 citações
5 - Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) - Ariano Suassuna - 80 citações
6 - O Tempo e o Vento (1949) - Érico Veríssimo - 77 citações
7 - Poema Sujo (1976) - Ferreira Gullar - 61 citações
8 - Catatau (1975) - Paulo Leminski - 54 citações
9 - Os Cavalinhos de Platiplanto (1959) - José J. Veiga - 47 citações
10 - O Vampiro de Curitiba (1965) - Dalton Trevisan - 36 citações
© Copyright 2008 - Revista Bula — Política de Privacidade É permitida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia dos editores, desde que citada a fonte.Revista Brasileira de Literatura e Jornalismo Cultural - editorial@revistabula.comPowered By: Hugo Wantuil e Zé Carlos
“Se sou Alegre ou sou triste?...
Francamente, não o sei.
A tristeza em que consiste?
Da alegria o que farei?
Não sou alegre nem triste.
Verdade, não sei que sou.
Sou qualquer alma que existe
E sente o que Deus fadou.
Afinal, alegre ou triste?
Pensar nunca tem bom fim..
.Minha tristeza consiste
Em não saber bem de mim..
.Mas a alegria é assim..."
(Fernando Pessoa)
Francamente, não o sei.
A tristeza em que consiste?
Da alegria o que farei?
Não sou alegre nem triste.
Verdade, não sei que sou.
Sou qualquer alma que existe
E sente o que Deus fadou.
Afinal, alegre ou triste?
Pensar nunca tem bom fim..
.Minha tristeza consiste
Em não saber bem de mim..
.Mas a alegria é assim..."
(Fernando Pessoa)
14 de jul. de 2008
CIVITAS MATER *
José Barnabé de Mesquita
"Meu carinho filial e meu sonho de poeta
Vêem-te, ó doce cidade ideal dos meus amores,
Em teu plácido vale, entre colinas, quieta,
Como um Éden terreal de encantos sedutores.
Tuas várzeas gentis estreladas de flores
Sagram-te do sertão a Princesa dileta
E o Sol te elege, quando, em íris multicores
Na esmeralda dos teus palmares se projeta
.Nenhuma outra cidade assim à alma nos fala,
Dos teus muros senis a tradição se exala
E a nossa História inteira em teu brasão reluz.
Ainda hoje em teu ambiente, ó minha urbe querida,
Paira dos teus heróis a sombra estremecida- Nobre Vila Real do Senhor Bom Jesus"!
* Poema dedicado à cidade de Cuiabá.
7 de jul. de 2008
A ARTE DE GUILHERME RICARDO DICKE
A arte de Ricardo Dicke
Chega ao público o décimo livro de Ricardo Dicke, o escritor mais premiado e erudito de Mato Grosso Lorenzo FalcãoDa EditoriaEle não faz concessões e escreve torrencialmente. Descarrega sua inspiração de forma autoral encurralando leitores contra as paredes de seus respectivos conhecimentos. É capaz de saltar de narrativas vertiginosas que nos fazem lembrar dos filmes de Quentin Tarantino, seara onde predomina a ação, para uma prosa mais filosófica cheia de parábolas e referências eruditas, num estilo que se assemelha à própria Bíblia. Assim é Ricardo Guilherme Dicke, escritor completo e complexo. Mato-grossense. Que enche de orgulho o povo desta terra. Que leva o nome deste estado a projetar-se nacional e internacionalmente, volta e meia, pontuando na mídia através de suas proezas literárias. E isso já dura quase quatro décadas. Nascido na localidade de Raizama, município de Chapada dos Guimarães, uma corrutela que provavelmente sucumbiu às águas da Usina de Manso, Ricardo lança hoje à noite, a partir das 19:00, no Museu da Imagem e do Som de Cuiabá – Misc, sua décima obra: “Toada do Esquecido & Sinfonia Eqüestre”, dois contos longos com sabor de novelas. Uma bela oportunidade aos leitores menos acostumados à erudição para penetrar no universo dickiano, já que são textos mais curtos e que irão requerer menos esforço para a leitura, considerando que a maioria de seus títulos ultrapassa as 300 páginas. Há que se registrar as distinções entre as duas narrativas que foram escritas em épocas diferentes. “Toada do Esquecido” é mais antigo. Deve ter sido escrito há mais ou menos 15 anos, senão mais do que isso. O próprio autor não se lembra exatamente. Um grupo de bandidos comete um crime e foge pelo sertão cerrado mato-grossense numa Kombi velha. Personagens grotescos, caricatos, protagonizam diálogos e situações extravagantes e vão revelando o teor de suas almas perdidas a desbravar os limites do comportamento humano, demasiado humano. Já “Sinfonia Eqüestre”, escrito há aproximadamente dois anos, revela a literatura de Dicke mais pautada no gesto filosófico, mas de intensa dramaticidade, com o enredo se desenvolvendo praticamente num ambiente familiar. Mas é querer muito e dizer pouco qualquer tentativa de dissecar com exatidão o estilo e a estrutura narrativa deste autor genial, mesmo que o objeto literário em questão – que é o caso, não provenha de escritos quilométricos como Dicke costuma praticar. Escritos que partem da sua singular experiência de vida e também da sua bagagem cultural vasta onde, além de literatura e filosofia, registra-se o conhecimento de línguas como inglês, alemão, francês, italiano e espanhol, além de português. Pacato e solitário é seu cotidiano no bairro Coophema, região do Coxipó. Mora com a esposa Adélia, a filha Ariadne e os netos Larissa e Cleiton. Costuma receber visitas de uns poucos amigos com quem compartilha seus assuntos e sua brilhante criação literária que já alimentou peças teatrais e até um documentário, exibido em rede nacional de televisão e que teve como ponto de partida seu romance “Cerimônias do Esquecimento”. Outro livro seu, “O Salário dos Poetas”, foi adaptado para o teatro e encenado em Portugal ano passado. Esse mesmo espetáculo, com algumas alterações, foi apresentado há poucos dias num festival de teatro em Florianópolis (SC). “Tudo que envolve Dicke dá certo e é sucesso”, disse certa vez o cineasta Bruno Bini. Artistas como Romeu Lucialdo, Amauri Tangará e Eduardo Ferreira, entre outros, que o digam. Apesar de ter pendurado seus apetrechos das artes plásticas – ele já mostrou muito talento entre cores e traços, está sendo arquitetada, ainda para este ano, uma exposição de suas obras que estão espalhadas por aí e também em sua casa. Gervane de Paula é quem está por trás dessa empreitada. Dicke lembra-se orgulhoso e saudoso de uma exposição que fez, em 1965, no antigo Grande Hotel (hoje Secretaria de Estado de Cultura), antes de chafurdar quase que radicalmente na linguagem literária. “Vendi todos os quadros e ganhei um bom dinheiro, com o qual, comprei uma chácara”, rememora o artista. Há um projeto novo, desafiador, que também anda balançando o coração de Ricardo e que envolve o maestro Leandro Carvalho, da Orquestra de Câmara de Mato Grosso: escrever um libreto para uma ópera. Mas isso ainda está numa fase, digamos, pré-embrionária. Literatura – Quase todos os seus livros conquistaram prêmios nacionais de expressão. Mas sua estréia com “Deus de Caim”, em 1968, foi retumbante. Ele havia enviado dois títulos para um concurso que tinha como jurados nada mais nada menos que Guimarães Rosa, Jorge Amado e Antônio Olinto. “Dicke se apresentara ao concurso: Deus de Caim e Décima Segunda Missa. Ambos muito bons. O primeiro nos pareceu mais bem realizado. Rosa falou de sua força envolvente, de sua impetuosidade vocabular. Jorge Amado realçou sua narrativa, sua coragem de narrar sem recursos falsamente literários. Ficamos, os três, certos de que ali estava um romancista de tipo novo, um homem capaz de abalar nossa ficção”, escreveu Olinto ao prefaciar o título de estréia de Dicke. “Toada do Esquecido & Sinfonia Eqüestre” chega ao público através de ótima estratégia envolvendo as editoras Cathedral Publicações e Carlini Caniato. “Cabe ao leitor o deleite de se embrenhar na obra deste ser(tão) fantástico que é Ricardo Guilherme Dicke”, escreve na orelha do lançamento, Cristina Campos, responsável pela preparação e revisão do livro. Para os amantes da sofisticada escrita de Dicke, que já foi apontado por Hilda Hilst como um dos principais autores brasileiros de todos os tempos, ao lado de Guimarães Rosa e Machado de Assis, outras boas notícias literárias se avizinham. Estão sendo preparados para reedições mais dois títulos do mato-grossense: “Madona dos Páramos” e “Deus de Caim”. É bom, mas ainda é pouco e o universo da materialização literária vai continuar devendo a Ricardo Guilherme Dicke edições de obras inéditas engavetadas e amareladas na memória do autor. “Orkos”, “Como o Silêncio”, “A Décima Segunda Missa” e “Epifanias”, entre outros, ainda hão de ser pauta para mais e melhores peripécias editoriais.
Edição nº 11609 05/09/2006 Diário de Cuiabá
Chega ao público o décimo livro de Ricardo Dicke, o escritor mais premiado e erudito de Mato Grosso Lorenzo FalcãoDa EditoriaEle não faz concessões e escreve torrencialmente. Descarrega sua inspiração de forma autoral encurralando leitores contra as paredes de seus respectivos conhecimentos. É capaz de saltar de narrativas vertiginosas que nos fazem lembrar dos filmes de Quentin Tarantino, seara onde predomina a ação, para uma prosa mais filosófica cheia de parábolas e referências eruditas, num estilo que se assemelha à própria Bíblia. Assim é Ricardo Guilherme Dicke, escritor completo e complexo. Mato-grossense. Que enche de orgulho o povo desta terra. Que leva o nome deste estado a projetar-se nacional e internacionalmente, volta e meia, pontuando na mídia através de suas proezas literárias. E isso já dura quase quatro décadas. Nascido na localidade de Raizama, município de Chapada dos Guimarães, uma corrutela que provavelmente sucumbiu às águas da Usina de Manso, Ricardo lança hoje à noite, a partir das 19:00, no Museu da Imagem e do Som de Cuiabá – Misc, sua décima obra: “Toada do Esquecido & Sinfonia Eqüestre”, dois contos longos com sabor de novelas. Uma bela oportunidade aos leitores menos acostumados à erudição para penetrar no universo dickiano, já que são textos mais curtos e que irão requerer menos esforço para a leitura, considerando que a maioria de seus títulos ultrapassa as 300 páginas. Há que se registrar as distinções entre as duas narrativas que foram escritas em épocas diferentes. “Toada do Esquecido” é mais antigo. Deve ter sido escrito há mais ou menos 15 anos, senão mais do que isso. O próprio autor não se lembra exatamente. Um grupo de bandidos comete um crime e foge pelo sertão cerrado mato-grossense numa Kombi velha. Personagens grotescos, caricatos, protagonizam diálogos e situações extravagantes e vão revelando o teor de suas almas perdidas a desbravar os limites do comportamento humano, demasiado humano. Já “Sinfonia Eqüestre”, escrito há aproximadamente dois anos, revela a literatura de Dicke mais pautada no gesto filosófico, mas de intensa dramaticidade, com o enredo se desenvolvendo praticamente num ambiente familiar. Mas é querer muito e dizer pouco qualquer tentativa de dissecar com exatidão o estilo e a estrutura narrativa deste autor genial, mesmo que o objeto literário em questão – que é o caso, não provenha de escritos quilométricos como Dicke costuma praticar. Escritos que partem da sua singular experiência de vida e também da sua bagagem cultural vasta onde, além de literatura e filosofia, registra-se o conhecimento de línguas como inglês, alemão, francês, italiano e espanhol, além de português. Pacato e solitário é seu cotidiano no bairro Coophema, região do Coxipó. Mora com a esposa Adélia, a filha Ariadne e os netos Larissa e Cleiton. Costuma receber visitas de uns poucos amigos com quem compartilha seus assuntos e sua brilhante criação literária que já alimentou peças teatrais e até um documentário, exibido em rede nacional de televisão e que teve como ponto de partida seu romance “Cerimônias do Esquecimento”. Outro livro seu, “O Salário dos Poetas”, foi adaptado para o teatro e encenado em Portugal ano passado. Esse mesmo espetáculo, com algumas alterações, foi apresentado há poucos dias num festival de teatro em Florianópolis (SC). “Tudo que envolve Dicke dá certo e é sucesso”, disse certa vez o cineasta Bruno Bini. Artistas como Romeu Lucialdo, Amauri Tangará e Eduardo Ferreira, entre outros, que o digam. Apesar de ter pendurado seus apetrechos das artes plásticas – ele já mostrou muito talento entre cores e traços, está sendo arquitetada, ainda para este ano, uma exposição de suas obras que estão espalhadas por aí e também em sua casa. Gervane de Paula é quem está por trás dessa empreitada. Dicke lembra-se orgulhoso e saudoso de uma exposição que fez, em 1965, no antigo Grande Hotel (hoje Secretaria de Estado de Cultura), antes de chafurdar quase que radicalmente na linguagem literária. “Vendi todos os quadros e ganhei um bom dinheiro, com o qual, comprei uma chácara”, rememora o artista. Há um projeto novo, desafiador, que também anda balançando o coração de Ricardo e que envolve o maestro Leandro Carvalho, da Orquestra de Câmara de Mato Grosso: escrever um libreto para uma ópera. Mas isso ainda está numa fase, digamos, pré-embrionária. Literatura – Quase todos os seus livros conquistaram prêmios nacionais de expressão. Mas sua estréia com “Deus de Caim”, em 1968, foi retumbante. Ele havia enviado dois títulos para um concurso que tinha como jurados nada mais nada menos que Guimarães Rosa, Jorge Amado e Antônio Olinto. “Dicke se apresentara ao concurso: Deus de Caim e Décima Segunda Missa. Ambos muito bons. O primeiro nos pareceu mais bem realizado. Rosa falou de sua força envolvente, de sua impetuosidade vocabular. Jorge Amado realçou sua narrativa, sua coragem de narrar sem recursos falsamente literários. Ficamos, os três, certos de que ali estava um romancista de tipo novo, um homem capaz de abalar nossa ficção”, escreveu Olinto ao prefaciar o título de estréia de Dicke. “Toada do Esquecido & Sinfonia Eqüestre” chega ao público através de ótima estratégia envolvendo as editoras Cathedral Publicações e Carlini Caniato. “Cabe ao leitor o deleite de se embrenhar na obra deste ser(tão) fantástico que é Ricardo Guilherme Dicke”, escreve na orelha do lançamento, Cristina Campos, responsável pela preparação e revisão do livro. Para os amantes da sofisticada escrita de Dicke, que já foi apontado por Hilda Hilst como um dos principais autores brasileiros de todos os tempos, ao lado de Guimarães Rosa e Machado de Assis, outras boas notícias literárias se avizinham. Estão sendo preparados para reedições mais dois títulos do mato-grossense: “Madona dos Páramos” e “Deus de Caim”. É bom, mas ainda é pouco e o universo da materialização literária vai continuar devendo a Ricardo Guilherme Dicke edições de obras inéditas engavetadas e amareladas na memória do autor. “Orkos”, “Como o Silêncio”, “A Décima Segunda Missa” e “Epifanias”, entre outros, ainda hão de ser pauta para mais e melhores peripécias editoriais.
Edição nº 11609 05/09/2006 Diário de Cuiabá
GUILHERME DICKE É DESTAQUE NA IMPRENSA NACIONAL
ESCRITOR MATO-GROSSENSE É DESTAQUE NA IMPRENSA NACIONAL
4/5/2004 15:18
Balcão de Negócios
Pão de ló
O Globo" revela detalhes da obra do escritor Ricardo Guilherme Dicke
MARILU RIBEIROAssessoria/Cultura-MTO escritor mato-grossense, Ricardo Guilherme Dicke (67), concedeu nesta sábado (01.05), uma entrevista ao jornalista do jornal de circulação nacional "O Globo", João Ximenes Braga.
Confira na íntegra a entrevista com Ricardo Guilherme Dicke
Dicke queixa-se do "ostracismo cruel" atribuindo-o sobretudo a sua distância dos grandes centros. Mas, em suas respostas, parece preferir aumentar que desvendar o mistério Dicke.
O Globo: O que acha de ter sido citado por Hilda Hilst ao lado de Rosa e Machado de Assis como um dos gigantes da Literatura?
Ricardo Guilherme Dicke: Senti-me surpreendido, pois é uma grande responsabilidade estar ao lado de Machado de Assis e Guimarães Rosa
O Globo: Você conhecia Hilda?
Dicke: Sim, conhecia-a pessoalmente. Gostávamos fraternalmente. Éramos amigos e trocávamos correspondência, nos comunicávamos por telefone e conversávamos sobre tudo o que existe.
O Globo: O senhor tinha 31 anos quando seu livro de estréia, "Deus de Caim", recebeu um prêmio cujos jurados eram Guimarães Rosa e Antonio Olinto.O que passou pela cabeça do jovem escritor?
Dicke: Tenho a declarar que tirei o quarto lugar nesse prêmio. A mídia fez o resto. E mesmo assim o livro teve grande projeção. Fiquei felicíssimo e sabia que havia aberto as portas da glória.
O Globo: "Rio abaixo dos vaqueiros" e "O Salário dos poetas" têm déspotas como epicentro da narrativa. Um fazendeiro no primeiro, um ditador no outro. Por que o poder e a tirania o fascinam como tema?
Dicke: Poder e tirania são temas que separam estes dois livros dos outros que escrevi. Freudianamente falando, poder e tirania são temas que vêm da influência do meu pai, que era muito bravo. Os livros podem ter a minha crueldade, mas também têm muitas coisas generosas e boas.
O Globo: Ainda falando sobre a temática desses dois livros...Quase não há duas páginas seguidas em que não se fale em morte, no prenúncio da morte, no medo da morte. Por quê?
Dicke: Porque a morte é o maior mistério que existe.
O Globo: Diz-se que o senhor bebia muito. Isso teria atrapalhado sua produção literária?
Dikie: Faz vinte anos que deixei de beber. Beber me prejudicou muito.
O Globo: Uma frase de Blaise Pascal, "O silêncio desses espaços infinitos me apavora", é citada diversas vezes ao longo de "O salário dos poetas".È uma síntese do peso que o horizonte do Pantanal e da Chapada tem na sua literatura?
Dicke: Essa frase de Pascal para mim resume o maior símbolo do mistério que existe no Universo.
O Globo: Além da literatura, como é seu cotidiano, o que o senhor faz atualmente?
Dicke: Sou (funcionário público) aposentado e vivo como um monge. Lendo e screvendo.O Globo: Há previsão de novos livros?
Dicke: Sim, aqui a gente pula atrás de editores. Como não há o que fazer, temos que esperar que nos descubram nos grandes centros. Tenho oito livros prontos para publicar. Nenhum plano porque aqui é a minha Finisterrae.
Obras e premiações do escritor mato-grossense:
- Prêmio Walmap (1967): Seu primeiro romance de estréia "Deus de Caim" cujos jurados foram Jorge Amado e Guimarães Rosa.
- Prêmio Remington (1977): Seu segundo livro "Caieira", considerado por Glauber Rocha, num programa de TV, como leitura obrigatória.
- Prêmio "Madona dos Paramos" (1981)- Seu terceiro título premiado pela Fundação Cultural do Distrito Federal.
- "O último horizonte " (1998)- Último livro a ser lançado comercialmente por uma editora no eixo Rio-São Paulo, estão esgotados e nunca foram reeditados.
- "Rio abaixo dos vaqueiros" e o "Salário dos Poetas" (2001)- Seus dois novos e mais recentes trabalhos viabilizados pela Secretaria de Estado de Cultura, por meio da Lei de Incentivo.
- Encontra-se em fase de finalização um documentário em média metragem sobre Dicke chamado "Cerimônia do esquecimento", produzido para exibição nas emissoras educativas do país. Mais informações podem ser obtidas com o agente do escritor pelo e-mail: lorenzofalcao@hotmail.com
Fonte: Secom/MT
4/5/2004 15:18
Balcão de Negócios
Pão de ló
O Globo" revela detalhes da obra do escritor Ricardo Guilherme Dicke
MARILU RIBEIROAssessoria/Cultura-MTO escritor mato-grossense, Ricardo Guilherme Dicke (67), concedeu nesta sábado (01.05), uma entrevista ao jornalista do jornal de circulação nacional "O Globo", João Ximenes Braga.
Confira na íntegra a entrevista com Ricardo Guilherme Dicke
Dicke queixa-se do "ostracismo cruel" atribuindo-o sobretudo a sua distância dos grandes centros. Mas, em suas respostas, parece preferir aumentar que desvendar o mistério Dicke.
O Globo: O que acha de ter sido citado por Hilda Hilst ao lado de Rosa e Machado de Assis como um dos gigantes da Literatura?
Ricardo Guilherme Dicke: Senti-me surpreendido, pois é uma grande responsabilidade estar ao lado de Machado de Assis e Guimarães Rosa
O Globo: Você conhecia Hilda?
Dicke: Sim, conhecia-a pessoalmente. Gostávamos fraternalmente. Éramos amigos e trocávamos correspondência, nos comunicávamos por telefone e conversávamos sobre tudo o que existe.
O Globo: O senhor tinha 31 anos quando seu livro de estréia, "Deus de Caim", recebeu um prêmio cujos jurados eram Guimarães Rosa e Antonio Olinto.O que passou pela cabeça do jovem escritor?
Dicke: Tenho a declarar que tirei o quarto lugar nesse prêmio. A mídia fez o resto. E mesmo assim o livro teve grande projeção. Fiquei felicíssimo e sabia que havia aberto as portas da glória.
O Globo: "Rio abaixo dos vaqueiros" e "O Salário dos poetas" têm déspotas como epicentro da narrativa. Um fazendeiro no primeiro, um ditador no outro. Por que o poder e a tirania o fascinam como tema?
Dicke: Poder e tirania são temas que separam estes dois livros dos outros que escrevi. Freudianamente falando, poder e tirania são temas que vêm da influência do meu pai, que era muito bravo. Os livros podem ter a minha crueldade, mas também têm muitas coisas generosas e boas.
O Globo: Ainda falando sobre a temática desses dois livros...Quase não há duas páginas seguidas em que não se fale em morte, no prenúncio da morte, no medo da morte. Por quê?
Dicke: Porque a morte é o maior mistério que existe.
O Globo: Diz-se que o senhor bebia muito. Isso teria atrapalhado sua produção literária?
Dikie: Faz vinte anos que deixei de beber. Beber me prejudicou muito.
O Globo: Uma frase de Blaise Pascal, "O silêncio desses espaços infinitos me apavora", é citada diversas vezes ao longo de "O salário dos poetas".È uma síntese do peso que o horizonte do Pantanal e da Chapada tem na sua literatura?
Dicke: Essa frase de Pascal para mim resume o maior símbolo do mistério que existe no Universo.
O Globo: Além da literatura, como é seu cotidiano, o que o senhor faz atualmente?
Dicke: Sou (funcionário público) aposentado e vivo como um monge. Lendo e screvendo.O Globo: Há previsão de novos livros?
Dicke: Sim, aqui a gente pula atrás de editores. Como não há o que fazer, temos que esperar que nos descubram nos grandes centros. Tenho oito livros prontos para publicar. Nenhum plano porque aqui é a minha Finisterrae.
Obras e premiações do escritor mato-grossense:
- Prêmio Walmap (1967): Seu primeiro romance de estréia "Deus de Caim" cujos jurados foram Jorge Amado e Guimarães Rosa.
- Prêmio Remington (1977): Seu segundo livro "Caieira", considerado por Glauber Rocha, num programa de TV, como leitura obrigatória.
- Prêmio "Madona dos Paramos" (1981)- Seu terceiro título premiado pela Fundação Cultural do Distrito Federal.
- "O último horizonte " (1998)- Último livro a ser lançado comercialmente por uma editora no eixo Rio-São Paulo, estão esgotados e nunca foram reeditados.
- "Rio abaixo dos vaqueiros" e o "Salário dos Poetas" (2001)- Seus dois novos e mais recentes trabalhos viabilizados pela Secretaria de Estado de Cultura, por meio da Lei de Incentivo.
- Encontra-se em fase de finalização um documentário em média metragem sobre Dicke chamado "Cerimônia do esquecimento", produzido para exibição nas emissoras educativas do país. Mais informações podem ser obtidas com o agente do escritor pelo e-mail: lorenzofalcao@hotmail.com
Fonte: Secom/MT
FORÇA, GUILHERME DICKE, NOSSA LITERATURA PRECISA MUITO DE VOCÊ
Escritor de MT está internado em estado grave em hospital de Cuiabá
Ele teve uma parada cardiorespiratória no sábado.
Redação TVCA
O escritor mato-grossense Guilherme Dicke (72) está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Matheus, em Cuiabá. Segundo informações de um amigo da família, Dicke teve uma parada cardiorespiratória neste sábado (5) e o estado de saúde dele é considerado grave.
De acordo com um outro amigo, o professor da Universidade Federal de Mato Grosso Mario Cézar Leite, Guilherme Dicke estava com um problema do coração.
O escritor Ricardo Guilherme Dicke é filho de pai alemão e a mãe é natural do Coxipó do Ouro, situada na Baixada Cuiabana. Ele nasceu em Raizama, município de Chapada dos Guimarães, em 1936.
Guilherme tem experiência como professor, tradutor e jornalista atuando em veículos impressos de Mato Grosso e Rio de Janeiro. Dicke é o mais premiado escritor mato-grossense em todos os tempos, sendo quase todas as premiações obtidas em nível nacional. A maior parte de seus livros foi contemplada com expressivos prêmios:
Deus de Caim: conquistou o prêmio Walmap (Edinova/RJ/1968)
Caieira: prêmio Remington de Prosa (Editora Francisco Alves/RJ/1977
A chave do abismo (Editora Amazoniada/MT/1981)
Madona dos Páramos: prêmio Ficção Brasília (Editora Antares/RJ/1982)
Último Horizonte (1988/edição totalmente esgotada e não há informações sobre a obra)
Cerimônias do Esquecimento: prêmio Academia Brasileira de Letras – Melhor
Romance (Editora da UFMT/MT/1995)
Conjunctio Oppositorum no Grande Sertão (tese de mestrado/edição do autor/MT/1999)
O salário dos poetas: prêmio Alto Mérito Sócio Cultural (edição do autor/MT/2000)
Rio abaixo dos vaqueiros (edição do autor/MT/2000)
Outras informações sobre o estado de saúde do escritor em instantes.
Ele teve uma parada cardiorespiratória no sábado.
Redação TVCA
O escritor mato-grossense Guilherme Dicke (72) está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Matheus, em Cuiabá. Segundo informações de um amigo da família, Dicke teve uma parada cardiorespiratória neste sábado (5) e o estado de saúde dele é considerado grave.
De acordo com um outro amigo, o professor da Universidade Federal de Mato Grosso Mario Cézar Leite, Guilherme Dicke estava com um problema do coração.
O escritor Ricardo Guilherme Dicke é filho de pai alemão e a mãe é natural do Coxipó do Ouro, situada na Baixada Cuiabana. Ele nasceu em Raizama, município de Chapada dos Guimarães, em 1936.
Guilherme tem experiência como professor, tradutor e jornalista atuando em veículos impressos de Mato Grosso e Rio de Janeiro. Dicke é o mais premiado escritor mato-grossense em todos os tempos, sendo quase todas as premiações obtidas em nível nacional. A maior parte de seus livros foi contemplada com expressivos prêmios:
Deus de Caim: conquistou o prêmio Walmap (Edinova/RJ/1968)
Caieira: prêmio Remington de Prosa (Editora Francisco Alves/RJ/1977
A chave do abismo (Editora Amazoniada/MT/1981)
Madona dos Páramos: prêmio Ficção Brasília (Editora Antares/RJ/1982)
Último Horizonte (1988/edição totalmente esgotada e não há informações sobre a obra)
Cerimônias do Esquecimento: prêmio Academia Brasileira de Letras – Melhor
Romance (Editora da UFMT/MT/1995)
Conjunctio Oppositorum no Grande Sertão (tese de mestrado/edição do autor/MT/1999)
O salário dos poetas: prêmio Alto Mérito Sócio Cultural (edição do autor/MT/2000)
Rio abaixo dos vaqueiros (edição do autor/MT/2000)
Outras informações sobre o estado de saúde do escritor em instantes.
TIGRES DE BORGES E TIGRES DE CORTÁZAR (Aclyse de Matos) - 01/09/2004
Tigres de Borges e tigres de Cortázar
Aclyse de Mattos
Ricardo Guilherme Dicke mandou trazer para o calor de Cuiabá dois tigres.Eram dois tigres muito literários: um tigre de Borges e um tigre de Cortázar.O povo dizia que aqueles tigres não iam se aclimatar, que eram da Ásia e que Mato Grosso não teria nada a ver com eles.
Ricardo Guilherme Dicke dizia que não, que as mangueiras também vinham da Índia e se deram muito bem no Brasil - falou isso tirando as florzinhas de mangueira que caíam na sua tigela de doce de maneira a deixar claro que mangueiras e tigres podiam muito bem habitar em Cuiabá."Além do mais estes tigres não vem da Ásia - como a lua.
Vem de Buenos Aires"Isto posto e dito isto foram todos ao porto ver a chegada dos tigres de Ricardo Guilherme Dicke. Estavam em duas jaulas que o guindaste temerosamente depositou no chão lamacento do porto, sob protestos do povo e reclamações de Guilherme Dicke. "Na picape. Na camionete. Estão pensando o quê ?"Resolvida a pendenga, a velha picape Willys Overland foi se arrastando com a traseira pesada de duas jaulas rumos às chácaras do Coxipó, um bairro tranqüilo e afastado onde todas as casas tinham quintais com mangueiras e agora com...tigres.
"Os tigres são muito parecidos" argumentou o dentista e poeta Moisés Martins "como você sabe qual é o tigre de Borges e o tigre de Cortázar ? "Ricardo Guilherme Dicke apontava para pequenos detalhes nas garras, na pelagem e nos caninos e discursava horas sobre a semiótica dos tigres."Sirva-se de mais um bolinho frito, Moisés"A vizinhança temia sobremaneira os tigres do quintal de Dicke. Ainda mais quando saíam a passear pelas ruas do Coxipó."Olhe lá, Moisés, o tigre de Cortázar urina nos cachorros e o tigre de Borges dilacera os portões da vizinhança para afiar as garras. É fácil distinguir um do outro."" Que lindinhos." Comentava pré-molando o incisivo poeta."Que desgraça" reclamava a vizinha varrendo as farpas do portão "Mariinha, traz o seca-poço para enxugar seu cachorro. Não. Não deixa ele se arrepiar na sala. Nãããooo...!
Meu pai que ia sempre emprestar livros de detetives e de crimes de "seu" Henrik Dicke - o pai holandês de Guilherme Dicke e que terminou sua vida se suicidando e deixando grandes mistérios por se resolver no calor tropical de Cuiabá - mas como ia dizendo, meu pai declarava na saída do Banco do Brasil que Ricardo Guilherme Dicke havia superado o pai." "Seu" Henrik criava aqueles cães pastores europeus e aquela aura de mistério"Todos se lembravam das peripécias dos cães pastores."O Simenon uma vez acuou dois bandidos no quintal, mas acabou liberando o que era menor de idade" declarou Renato Pinto já com o empréstimo liberado para investir em gado."E aquele mastim catalão, o Montalban, que corria pelas ruas na festa de São Benedito apavorando os fiéis e o pessoal do andor tinha que correr junto, para o mesmo lado, senão o Santo caía" frisou o velho Gabriel Müller que viera quitar o financiamento da soja.Subitamente todos pararam de rir como se as taxas de juros tivessem aumentado. Na realidade, foram os tigres de Borges, e os tigres de Cortazar que fizeram um pequeno passeio na imaginação dos senhores, em frente ao Banco do Brasil."Ainda bem que ele não é meu vizinho de cerca na fazenda".
No mínimo o tigre de Cortazar havia degolado quatrocentas e cinqüenta rezes para o tigre de Borges beber o sangue quente e sagrado das vacas - ó pecado dos pecados na sua velha e emangueirada Índia."Veja bem" palestrava Guilherme Dicke "é fácil distinguir Júlio de Jorge Luis" foi assim que ele batizara o tigre de Cortazar e o tigre de Borges, respectivamente e nesta mesma ordem."Jorge Luis é o que está fazendo poses para o fotógrafo de 'A GAZETA'. Júlio é o que ameaça devorar o fotógrafo se ele disparar o flash""Ah! Entendi" declarou o jornalista Onofre Ribeiro, mineiro de nascimento e mato-grossense de opção. "Não! Não dispare o flash! Ai ai ai!"A vizinhança reclamava e decretava que tudo de ruim que acontecia era culpa dos tigres."Minhas galinhas não botam mais ovos!""O carteiro não passa nesta rua! ""O namorado de minha filha se mijou todo e desmanchou o namoro"Guilherme Dicke era categórico: "Você confunde galinha com frango depois quer que eles ponham ovos" "Quem é que precisa receber contas e notícias ruins"? "O namorado de sua filha era um frouxo e tava louco para desmanchar, só aproveitou a deixa". E desfechava, irrefutável. "Mas ninguém vem assaltar por aqui"Apesar das considerações de Guilherme Dicke era inegável que os tigres se sentiam deslocados.
O tigre de Borges saía garboso como quem fosse pisar na grama sangrenta dos templos de Angkor Vat e atolava-se na lama ressecada das margens do Rio Coxipó. Júlio, o tigre de Cortázar, fazia incursões noturnas pronto para devorar famílias de imigrantes italianos no bairro da Boca e encontrava casebres de taipa socada de indinhos moreninhos. Trabalho dobrado. As casas eram afastadas e o efeito andança o fazia atacar até 3 casas por noitada.De manhã, quando Guilherme Dicke vinha abrir a jaula furada e alimentá-los com nacos de piranha e quartos de porcos do mato caititu eles se mostravam enfastiados. Sem dúvida faltava clima para a felicidade daqueles tigres literários.
O marketeiro (e poeta) Aclyse de Mattos afirmava que Dicke trouxera os tigres só para enlameá-los e cobri-los de cal, de moscas e de febres para provar que a selva de Mato Grosso era mais rigorosa que a da Índia Imaginária ou a de Buenos Aires Recordada.A Semioticista Lucia Helena Possari efetuou sérios trabalhos sobre a pelagem dos tigres, mas o veterinário detectou verminose nos bichos. A vizinhança estranhou quando Júlio e Jorge Luis saíram comendo matinhos e capim como os cachorros barrigudos da redondeza.Num último e desesperado esforço o gastroenterologista (e poeta) Ivens Cuiabano Scaff aventou com Guilherme Dicke a possibilidade de trocar seus tigres pelas onças pintadas do Zoológico da Universidade Federal de Mato Grosso."Olha só, Dicke, as onças já estão acostumadas ao pantanal, aos espinheiros, ao cerrado".Dicke procurou no catálogo de Borges e de Cortázar, mas no máximo encontrou jaguares. Achou que o problema era os encontros consonantais e consultou o advogado (e poeta) Benedito Silva Freire em um terreno espírita, para decepcionado ver, que não tinha como recorrer da sentença, quanto mais das figuras de retórica, esses tropos mais que tropicais que barroquizam as obras da literatura, graças a Deus proliferantes na América de língua Ibérica.Naquela noite, decepcionado Guilherme Dicke com as reações de pobreza imaginativa do povo do Coxipó, e até dos pares de Cuiabá, e até com a aclimatação negativa que os tigres experimentaram, ele fechou-se na jaula com os bichos famintos após lambuzar-se de sangue de zebus e alcatras de vacas holandesas, homenagem a seu pai, para ser devorado e adorado pelo estômago das feras.Passou-lhe pela cabeça o suicídio do pai, a mediocridade da vida provinciana, as dificuldades da vida de todos os artistas que não encontram para quem dizer de sua imaginação, do seu parto de novos símbolos que as pessoas não conseguiam engolir, quanto mais digerir e responder na linguagem sedutora dos autores e poetas revolucionários.
Desiludido com os tigres que acabaram se nivelando com os cães, com as galinhas e com as vizinhas (quando ele esperava o contrário, que os tigres levantassem a imaginação das vizinhas, das galinhas e dos cães), Guilherme Dicke abraçou-se a seus livros e deitou-se entre os tigres, sonado como um santo-demônio, incompreendido por seu tempo e seus pares. Pronto para enfrentar a morte e amar o esquecimento.Na luminosa manhã do dia seguinte, quando a mulher de Dicke foi abrir a jaula espantada porque o marido não o fizera ainda, encontrou os dois tigres acompanhados por um estranho lobo-onça-demônio e desandou a chorar quando adivinhou no seu andar agressivo e contido que aquele não era nem um tigre de Borges, nem um tigre de Cortázar, mas um lobo de Dicke.E a Academia reconheceu que os tigres e lobos podiam perfeitamente habitar as chácaras da Rua Joinville, do bairro do Coxipó, da capital Cuiabá, do interior do Mato Grosso e dos sertões do Brasil, e que não era proibida a importação de tigres imaginários porque a poesia realmente não tem a mínima fronteira.
Aclyse de Mattos é professor universitário, contista e poeta.
É autor de Quem muito olha a lua fica louco
Aclyse de Mattos
Ricardo Guilherme Dicke mandou trazer para o calor de Cuiabá dois tigres.Eram dois tigres muito literários: um tigre de Borges e um tigre de Cortázar.O povo dizia que aqueles tigres não iam se aclimatar, que eram da Ásia e que Mato Grosso não teria nada a ver com eles.
Ricardo Guilherme Dicke dizia que não, que as mangueiras também vinham da Índia e se deram muito bem no Brasil - falou isso tirando as florzinhas de mangueira que caíam na sua tigela de doce de maneira a deixar claro que mangueiras e tigres podiam muito bem habitar em Cuiabá."Além do mais estes tigres não vem da Ásia - como a lua.
Vem de Buenos Aires"Isto posto e dito isto foram todos ao porto ver a chegada dos tigres de Ricardo Guilherme Dicke. Estavam em duas jaulas que o guindaste temerosamente depositou no chão lamacento do porto, sob protestos do povo e reclamações de Guilherme Dicke. "Na picape. Na camionete. Estão pensando o quê ?"Resolvida a pendenga, a velha picape Willys Overland foi se arrastando com a traseira pesada de duas jaulas rumos às chácaras do Coxipó, um bairro tranqüilo e afastado onde todas as casas tinham quintais com mangueiras e agora com...tigres.
"Os tigres são muito parecidos" argumentou o dentista e poeta Moisés Martins "como você sabe qual é o tigre de Borges e o tigre de Cortázar ? "Ricardo Guilherme Dicke apontava para pequenos detalhes nas garras, na pelagem e nos caninos e discursava horas sobre a semiótica dos tigres."Sirva-se de mais um bolinho frito, Moisés"A vizinhança temia sobremaneira os tigres do quintal de Dicke. Ainda mais quando saíam a passear pelas ruas do Coxipó."Olhe lá, Moisés, o tigre de Cortázar urina nos cachorros e o tigre de Borges dilacera os portões da vizinhança para afiar as garras. É fácil distinguir um do outro."" Que lindinhos." Comentava pré-molando o incisivo poeta."Que desgraça" reclamava a vizinha varrendo as farpas do portão "Mariinha, traz o seca-poço para enxugar seu cachorro. Não. Não deixa ele se arrepiar na sala. Nãããooo...!
Meu pai que ia sempre emprestar livros de detetives e de crimes de "seu" Henrik Dicke - o pai holandês de Guilherme Dicke e que terminou sua vida se suicidando e deixando grandes mistérios por se resolver no calor tropical de Cuiabá - mas como ia dizendo, meu pai declarava na saída do Banco do Brasil que Ricardo Guilherme Dicke havia superado o pai." "Seu" Henrik criava aqueles cães pastores europeus e aquela aura de mistério"Todos se lembravam das peripécias dos cães pastores."O Simenon uma vez acuou dois bandidos no quintal, mas acabou liberando o que era menor de idade" declarou Renato Pinto já com o empréstimo liberado para investir em gado."E aquele mastim catalão, o Montalban, que corria pelas ruas na festa de São Benedito apavorando os fiéis e o pessoal do andor tinha que correr junto, para o mesmo lado, senão o Santo caía" frisou o velho Gabriel Müller que viera quitar o financiamento da soja.Subitamente todos pararam de rir como se as taxas de juros tivessem aumentado. Na realidade, foram os tigres de Borges, e os tigres de Cortazar que fizeram um pequeno passeio na imaginação dos senhores, em frente ao Banco do Brasil."Ainda bem que ele não é meu vizinho de cerca na fazenda".
No mínimo o tigre de Cortazar havia degolado quatrocentas e cinqüenta rezes para o tigre de Borges beber o sangue quente e sagrado das vacas - ó pecado dos pecados na sua velha e emangueirada Índia."Veja bem" palestrava Guilherme Dicke "é fácil distinguir Júlio de Jorge Luis" foi assim que ele batizara o tigre de Cortazar e o tigre de Borges, respectivamente e nesta mesma ordem."Jorge Luis é o que está fazendo poses para o fotógrafo de 'A GAZETA'. Júlio é o que ameaça devorar o fotógrafo se ele disparar o flash""Ah! Entendi" declarou o jornalista Onofre Ribeiro, mineiro de nascimento e mato-grossense de opção. "Não! Não dispare o flash! Ai ai ai!"A vizinhança reclamava e decretava que tudo de ruim que acontecia era culpa dos tigres."Minhas galinhas não botam mais ovos!""O carteiro não passa nesta rua! ""O namorado de minha filha se mijou todo e desmanchou o namoro"Guilherme Dicke era categórico: "Você confunde galinha com frango depois quer que eles ponham ovos" "Quem é que precisa receber contas e notícias ruins"? "O namorado de sua filha era um frouxo e tava louco para desmanchar, só aproveitou a deixa". E desfechava, irrefutável. "Mas ninguém vem assaltar por aqui"Apesar das considerações de Guilherme Dicke era inegável que os tigres se sentiam deslocados.
O tigre de Borges saía garboso como quem fosse pisar na grama sangrenta dos templos de Angkor Vat e atolava-se na lama ressecada das margens do Rio Coxipó. Júlio, o tigre de Cortázar, fazia incursões noturnas pronto para devorar famílias de imigrantes italianos no bairro da Boca e encontrava casebres de taipa socada de indinhos moreninhos. Trabalho dobrado. As casas eram afastadas e o efeito andança o fazia atacar até 3 casas por noitada.De manhã, quando Guilherme Dicke vinha abrir a jaula furada e alimentá-los com nacos de piranha e quartos de porcos do mato caititu eles se mostravam enfastiados. Sem dúvida faltava clima para a felicidade daqueles tigres literários.
O marketeiro (e poeta) Aclyse de Mattos afirmava que Dicke trouxera os tigres só para enlameá-los e cobri-los de cal, de moscas e de febres para provar que a selva de Mato Grosso era mais rigorosa que a da Índia Imaginária ou a de Buenos Aires Recordada.A Semioticista Lucia Helena Possari efetuou sérios trabalhos sobre a pelagem dos tigres, mas o veterinário detectou verminose nos bichos. A vizinhança estranhou quando Júlio e Jorge Luis saíram comendo matinhos e capim como os cachorros barrigudos da redondeza.Num último e desesperado esforço o gastroenterologista (e poeta) Ivens Cuiabano Scaff aventou com Guilherme Dicke a possibilidade de trocar seus tigres pelas onças pintadas do Zoológico da Universidade Federal de Mato Grosso."Olha só, Dicke, as onças já estão acostumadas ao pantanal, aos espinheiros, ao cerrado".Dicke procurou no catálogo de Borges e de Cortázar, mas no máximo encontrou jaguares. Achou que o problema era os encontros consonantais e consultou o advogado (e poeta) Benedito Silva Freire em um terreno espírita, para decepcionado ver, que não tinha como recorrer da sentença, quanto mais das figuras de retórica, esses tropos mais que tropicais que barroquizam as obras da literatura, graças a Deus proliferantes na América de língua Ibérica.Naquela noite, decepcionado Guilherme Dicke com as reações de pobreza imaginativa do povo do Coxipó, e até dos pares de Cuiabá, e até com a aclimatação negativa que os tigres experimentaram, ele fechou-se na jaula com os bichos famintos após lambuzar-se de sangue de zebus e alcatras de vacas holandesas, homenagem a seu pai, para ser devorado e adorado pelo estômago das feras.Passou-lhe pela cabeça o suicídio do pai, a mediocridade da vida provinciana, as dificuldades da vida de todos os artistas que não encontram para quem dizer de sua imaginação, do seu parto de novos símbolos que as pessoas não conseguiam engolir, quanto mais digerir e responder na linguagem sedutora dos autores e poetas revolucionários.
Desiludido com os tigres que acabaram se nivelando com os cães, com as galinhas e com as vizinhas (quando ele esperava o contrário, que os tigres levantassem a imaginação das vizinhas, das galinhas e dos cães), Guilherme Dicke abraçou-se a seus livros e deitou-se entre os tigres, sonado como um santo-demônio, incompreendido por seu tempo e seus pares. Pronto para enfrentar a morte e amar o esquecimento.Na luminosa manhã do dia seguinte, quando a mulher de Dicke foi abrir a jaula espantada porque o marido não o fizera ainda, encontrou os dois tigres acompanhados por um estranho lobo-onça-demônio e desandou a chorar quando adivinhou no seu andar agressivo e contido que aquele não era nem um tigre de Borges, nem um tigre de Cortázar, mas um lobo de Dicke.E a Academia reconheceu que os tigres e lobos podiam perfeitamente habitar as chácaras da Rua Joinville, do bairro do Coxipó, da capital Cuiabá, do interior do Mato Grosso e dos sertões do Brasil, e que não era proibida a importação de tigres imaginários porque a poesia realmente não tem a mínima fronteira.
Aclyse de Mattos é professor universitário, contista e poeta.
É autor de Quem muito olha a lua fica louco
DO CAIS AO SERTÕES LITERÁRIOS DO BRASIL
Do cais ao sertão Sertões literários do Brasil
Texto publicado em 01 de Julho de 2008 - 07h20
por Alessandro Atanes *
De suas viagens e de sua literatura pelos sertões Euclides da Cunha escreveu uma vez sobre Vicente de Carvalho, poeta do litoral de São Paulo. No prefácio a Poemas e canções (1908), o autor de Os sertões (1902) comenta a relação de Carvalho com o litoral, o que contribuiu para a formação da imagem de poeta do mar. No mundo que é a literatura, o sertão nomeou o mar.
Em sua desimportância frente aos Sertões e aos Poemas e canções, este simples Porto Literário percorrerá o sentido inverso, em direção ao Centro Oeste para escrever sobre Toada do Esquecido, do escritor mato-grossense Ricardo Guilherme Dicke.
Sendo Euclides da Cunha o fixador literário do sertão nordestino, o sertão de Minas Gerais é a escrita de Guimarães Rosa em Grande sertão: veredas. Por causa da Guerra de Canudos, podemos tomar o primeiro por drama épico, tanto que já foi adaptado ao teatro; o outro, por causa da linguagem que se esparrama pelo sertão, é narrativa poética.
Até aí temos a guerra e a linguagem, duas ações humanas. Já a relação entre o humano e o sagrado é o lugar do mito, que tudo abarca. O romance O salário dos Poetas (2001) e a novela Toada do Esquecido (2006) – ambos de uma escrita de matriz roseana – são assim, abarcadores do mundo. Além da própria estatura literária imensa, a obra de Ricardo Guilherme Dicke ainda sobe nos ombros de Rosa e Euclides.
O sertão da linguagem de invenção de Ricardo Guilherme Dicke reúne tudo. É o sertão amazônico do Mato Grosso, dos campos queimados cortados por estradas percorridas por kombis e jipes que se insinuam até a linha de queimadas que acompanha o horizonte. É um sertão dos dias grandes e das noites escuras; dos garimpos que arregaçam a terra e dos agronegócios que varrem a selva.
No sertão de Dicke, o mito não é só objeto, é também componente narrativo. Um exemplo são os personagens dessas duas histórias, todos arquétipos: temos o general exilado, o poeta com malária e o coveiro filósofo no Salário dos Poetas; e na Toada do Esquecido temos quatro personagens que fogem de um garimpo. Eles acabam de assaltar todo o ouro extraído do lugar e cruzam os “horizontes carbonizados” cada um vestido com uma fantasia: El Diablo, o Cavaleiro, a Morte e Zabud, o deus mesopotâmico das moscas. Sem contar que El Diablo traz um papagaio que não cessa de apontar o horrível do mundo, que a Morte (e depois o Cavaleiro e Zabud) observa continuadamente as horas no pulso, que animais os acompanham num trailer atado ao automóvel, que folhas de dicionário são usadas na limpeza pessoal, que a comida não lhes pára no estômago, que todas as estações nas línguas do mundo sintonizadas no rádio da kombi só trazem notícias, notícias, notícias e nenhuma música.
O objetivo da fuga é alcançar Vila Bela, a primeira capital do Estado, na fronteira com a Bolívia, cidade em que esperam não encontrar o cerco de bandidos, policiais e aventureiros que era preparado nas cidades cortadas pela estrada principal, todos comprados pelos senhores do garimpo.
El Diablo tem razão com seu bendito papagaio: mundo horrível, mundo horroroso, mundo horrendo, mundo hórrido, aqui são esses campos que foram algum dia verdejantes e copados, densos de pássaros cantando, de animais aninhando-se nas suas profundidades, mas que agora são o quê? Nada a não ser desertos, nada mais que desertos, ninhos do silêncio, nada mais que silêncio onde não cai a chuva, de onde fogem todos os seres vivos, que Deus não olha, onde vêm apenas aninhar-se as feras fugidas da chamada civilização, os homens como nós, ah, o horror, horror, horror... E o Cavaleiro suspira e sente fome.
A obra de Dicke ainda reúne o tempo acumulado, desde o massacre da auto-afirmação da República no final do século XIX, que é descrita em jornalismo e literatura por Euclides da Cunha; até a ocupação do sertão da primeira metade do século XX, como praticou o Marechal Rondon e o próprio Euclides da Cunha (os dois foram colegas do curso de Engenharia do Exército, onde o autor chegou a tenente; em 1905, já a serviço do Ministério das Relações Exteriores, ele chefiaria uma missão oficial pelo Rio Purus, nas fronteiras amazônicas).
As missões de ocupação e exploração constituem dois dos aspectos daquele período de acentuado interesse na busca e promoção da identidade nacional no qual também são publicados estudos fundamentais sobre a identidade brasileira (Formação do Brasil Contemporâneo, Raízes do Brasil, Casa Grande e Senzala, todos da década de 30). Marcos da conquista do sertão podemos considerar a construção de Brasília (1960) no plano físico; e, no plano simbólico, a fabulação literária de Guimarães Rosa (seu primeiro livro, Sagarana, é de 1946; o Grande sertão: veredas é de 1956).
A escrita de Dicke, apesar de mítica (na forma e no conteúdo), é também mimética, isto é, tem a capacidade de nos representar o real. Mas não é o real do que “realmente ocorreu” como nos filmes baseados em “fatos reais”, e sim o real dos sentidos: a própria dificuldade de leitura, por um lado, ou os efeitos de calor, imensidão e paralisação do tempo, por outro.
O Cavalheiro olha para o fim da estradinha que se perde no horizonte, por onde sumiu Zabud. A noite vem entrando com seu frio. O som do rádio cada vez diminui mais, a bateria está no fim, o fogo apagou, ninguém está com fome, todos em silêncio sentem a noite cair lentamente, com o lentor das coisas que nunca mudam ou se adiam. Está tão escuro que não se dá para ver mais nada, já não se enxergam entre si, nem o vasto céu, nem a lonjura da terra com seus eternos campos queimados, eternidade de tocos negros que os homens do lado de lá deixaram como marcas de sua passagem. As horas vão se escoando com a mesma lentitude pelo vago funil do tempo que filtra tudo.
Esse é o sertão de Ricardo Guilherme Dicke: um sertão arrasado, ainda que tão imenso.
Referências
Ricardo Guilherme Dicke. Toada do Esquecido & Sinfonia Eqüestre. Cuiabá: Cathedral Publicações e Carlini & Caniato, 2006.
Ricardo Guilherme Dicke. O Salário dos Poetas. Cuiabá: Secretaria de Cultura de Mato Grosso, 2001.
Texto publicado em 01 de Julho de 2008 - 07h20
por Alessandro Atanes *
De suas viagens e de sua literatura pelos sertões Euclides da Cunha escreveu uma vez sobre Vicente de Carvalho, poeta do litoral de São Paulo. No prefácio a Poemas e canções (1908), o autor de Os sertões (1902) comenta a relação de Carvalho com o litoral, o que contribuiu para a formação da imagem de poeta do mar. No mundo que é a literatura, o sertão nomeou o mar.
Em sua desimportância frente aos Sertões e aos Poemas e canções, este simples Porto Literário percorrerá o sentido inverso, em direção ao Centro Oeste para escrever sobre Toada do Esquecido, do escritor mato-grossense Ricardo Guilherme Dicke.
Sendo Euclides da Cunha o fixador literário do sertão nordestino, o sertão de Minas Gerais é a escrita de Guimarães Rosa em Grande sertão: veredas. Por causa da Guerra de Canudos, podemos tomar o primeiro por drama épico, tanto que já foi adaptado ao teatro; o outro, por causa da linguagem que se esparrama pelo sertão, é narrativa poética.
Até aí temos a guerra e a linguagem, duas ações humanas. Já a relação entre o humano e o sagrado é o lugar do mito, que tudo abarca. O romance O salário dos Poetas (2001) e a novela Toada do Esquecido (2006) – ambos de uma escrita de matriz roseana – são assim, abarcadores do mundo. Além da própria estatura literária imensa, a obra de Ricardo Guilherme Dicke ainda sobe nos ombros de Rosa e Euclides.
O sertão da linguagem de invenção de Ricardo Guilherme Dicke reúne tudo. É o sertão amazônico do Mato Grosso, dos campos queimados cortados por estradas percorridas por kombis e jipes que se insinuam até a linha de queimadas que acompanha o horizonte. É um sertão dos dias grandes e das noites escuras; dos garimpos que arregaçam a terra e dos agronegócios que varrem a selva.
No sertão de Dicke, o mito não é só objeto, é também componente narrativo. Um exemplo são os personagens dessas duas histórias, todos arquétipos: temos o general exilado, o poeta com malária e o coveiro filósofo no Salário dos Poetas; e na Toada do Esquecido temos quatro personagens que fogem de um garimpo. Eles acabam de assaltar todo o ouro extraído do lugar e cruzam os “horizontes carbonizados” cada um vestido com uma fantasia: El Diablo, o Cavaleiro, a Morte e Zabud, o deus mesopotâmico das moscas. Sem contar que El Diablo traz um papagaio que não cessa de apontar o horrível do mundo, que a Morte (e depois o Cavaleiro e Zabud) observa continuadamente as horas no pulso, que animais os acompanham num trailer atado ao automóvel, que folhas de dicionário são usadas na limpeza pessoal, que a comida não lhes pára no estômago, que todas as estações nas línguas do mundo sintonizadas no rádio da kombi só trazem notícias, notícias, notícias e nenhuma música.
O objetivo da fuga é alcançar Vila Bela, a primeira capital do Estado, na fronteira com a Bolívia, cidade em que esperam não encontrar o cerco de bandidos, policiais e aventureiros que era preparado nas cidades cortadas pela estrada principal, todos comprados pelos senhores do garimpo.
El Diablo tem razão com seu bendito papagaio: mundo horrível, mundo horroroso, mundo horrendo, mundo hórrido, aqui são esses campos que foram algum dia verdejantes e copados, densos de pássaros cantando, de animais aninhando-se nas suas profundidades, mas que agora são o quê? Nada a não ser desertos, nada mais que desertos, ninhos do silêncio, nada mais que silêncio onde não cai a chuva, de onde fogem todos os seres vivos, que Deus não olha, onde vêm apenas aninhar-se as feras fugidas da chamada civilização, os homens como nós, ah, o horror, horror, horror... E o Cavaleiro suspira e sente fome.
A obra de Dicke ainda reúne o tempo acumulado, desde o massacre da auto-afirmação da República no final do século XIX, que é descrita em jornalismo e literatura por Euclides da Cunha; até a ocupação do sertão da primeira metade do século XX, como praticou o Marechal Rondon e o próprio Euclides da Cunha (os dois foram colegas do curso de Engenharia do Exército, onde o autor chegou a tenente; em 1905, já a serviço do Ministério das Relações Exteriores, ele chefiaria uma missão oficial pelo Rio Purus, nas fronteiras amazônicas).
As missões de ocupação e exploração constituem dois dos aspectos daquele período de acentuado interesse na busca e promoção da identidade nacional no qual também são publicados estudos fundamentais sobre a identidade brasileira (Formação do Brasil Contemporâneo, Raízes do Brasil, Casa Grande e Senzala, todos da década de 30). Marcos da conquista do sertão podemos considerar a construção de Brasília (1960) no plano físico; e, no plano simbólico, a fabulação literária de Guimarães Rosa (seu primeiro livro, Sagarana, é de 1946; o Grande sertão: veredas é de 1956).
A escrita de Dicke, apesar de mítica (na forma e no conteúdo), é também mimética, isto é, tem a capacidade de nos representar o real. Mas não é o real do que “realmente ocorreu” como nos filmes baseados em “fatos reais”, e sim o real dos sentidos: a própria dificuldade de leitura, por um lado, ou os efeitos de calor, imensidão e paralisação do tempo, por outro.
O Cavalheiro olha para o fim da estradinha que se perde no horizonte, por onde sumiu Zabud. A noite vem entrando com seu frio. O som do rádio cada vez diminui mais, a bateria está no fim, o fogo apagou, ninguém está com fome, todos em silêncio sentem a noite cair lentamente, com o lentor das coisas que nunca mudam ou se adiam. Está tão escuro que não se dá para ver mais nada, já não se enxergam entre si, nem o vasto céu, nem a lonjura da terra com seus eternos campos queimados, eternidade de tocos negros que os homens do lado de lá deixaram como marcas de sua passagem. As horas vão se escoando com a mesma lentitude pelo vago funil do tempo que filtra tudo.
Esse é o sertão de Ricardo Guilherme Dicke: um sertão arrasado, ainda que tão imenso.
Referências
Ricardo Guilherme Dicke. Toada do Esquecido & Sinfonia Eqüestre. Cuiabá: Cathedral Publicações e Carlini & Caniato, 2006.
Ricardo Guilherme Dicke. O Salário dos Poetas. Cuiabá: Secretaria de Cultura de Mato Grosso, 2001.
28 de jun. de 2008
WLADEMIR DIAS-PINO
WLADEMIR DIAS-PINO
É um dos maiores valores da poesia visual brasileira. Integrou o movimento concretista, fundado pelos irmãos Campos. Participou da "Exposição Nacional de Arte Concreta" em 1956 no MASP. Publicou "Solida" em 1952, o primeiro "Livro-Poema" brasileiro. Em 1956 publicou "A Ave”: Mais tarde rompeu com o concretismo. Em 1967, com Álvaro de Sá e Neide Dias de Sá organizou na ESDI a exposição "LANÇAMENTO do POEMA-PROCESSO", ao mesmo tempo Moacy Cime iniciava o movimento no Nordeste. Para romper a tática de 'bloquear informações' dos paulistas, organizou a passeata de "Rasgação de Livros" em 1968, ano que publicou "Metacódigo". Em 1972, devido a repressão política o movimento dissolveu-se, lançando o manifesto "Parada Tática”. Atualmente desenvolve o Poema Conceito.Veja>>> CALIGRAMAS / CALIGRAMMES, seleção original de WLADEMIR DIAS-PINO:http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/caligramas.html
WLADEMIR DIAS-PINO
DADOS BIOGRÁFICOS
1927 - Nasce em 24 de abril, na cidade do Rio de Janeiro.
1936 - Acompanha a família transferida para Mato Grosso. O pai, anarquista e tipógrafo da Imprensa Nacional, por motivos políticos vai morar na província.
1940 - Publica A Fome dos Lados, poema em forma de livro que se abre verticalmente.
1941 - Pública A Máquina que Ri, também em forma de livro, explorando a horizontalidade da página branca.
1947 – Publicao livro Perfil.
1948 - Publica Dia da Cidade, livro-poema que espacializa as palavras dando funcionalidade ao branco. Começa a elaborar A Ave, poema voltado para as questões do manuseio e da visualidade, como livro-poema.
1949 - Funda o jornal Arauto de Juvenília, juntamente com o poeta Benedito Sant´Ana da Silva Freire tendo como órgão divulgador o jornal Sarã. Ambos iniciam o processo de renovação das letras cuiabanas, na tentativa de sacudir a pasmaceira e acertar o relógio da província.
1951 - Lança o movimento Intensivista com Rubens de Mendonça e Othoniel Silva.
1952 - Publica Poemas Desmontáveis. Transfere-se para o Rio de Janeiro, onde permanece por 20 anos.
1953 - Funda o jornal Japa, juntamente com Silva Freire, com a finalidade de publicar poetas jovens.
1954 - Edita Os Corcundas.
1955 - Publica A Máquina ou A Coisa em Si. Nessa época dedica-se também à pintura, elaborando a série Direcional.
1956 - Publica A Ave, livro inteiramente artesanal, com cerca de 300 exemplares, onde a perfuração, a cor e os gráficos funcionais fazem dele o primeiro livro-poema cibernético, cuja lógica está na fisicalidade do objeto-livro, quando o poema se realiza e a decodificação se dá através do manuseio. Nesse mesmo ano, faz parte do meio estudantil e elabora a programação visual da revista Movimento, da União Nacional dos Estudantes - UNE. Junto com Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos, Ronaldo Azeredo e Ferreira Gullar, funda o movimento da Poesia Concreta. Ao lado desses poetas e 22 artistas plásticos, participa da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta, em dezembro desse mesmo ano, em São Paulo e em fevereiro de 1957, no Rio de Janeiro. Ainda em 1956, promove a Primeira Noite de Arte Concreta na UNE, juntamente com o Poeta Silva Freire, introduzindo no meio estudantil o debate sobre a arte de vanguarda.
1957 - Publica Poema Espacional.
1958 - Realiza no carnaval, a primeira decoração geométrica do obelisco até a Praça Mauá no Rio de Janeiro. Publica Poemas para Armar e Poemas Manipuláveis.
1960 - Procede à releitura desses poemas, resultando nas várias versões, do poema visual Solida, publicadas em 1962. Entre 1960 e 1961, compôs o livro-poema Numéricos, publicado em 1968.
1962 – Edita Os Elementos.
1962/8 - Publica Metacódigo.
1963 - Publica Capa e Contra-Capa.
1967 - Publica Brasil Meia-Meia.
1967 - Participa da IX Bienal de São Paulo, com os Objetos Sensoriais. Em dezembro desse mesmo ano, funda, com outros poetas, o movimento Poema//Processo.
1968 – Em janeiro, o movimento liderado pelo poeta realiza ato público coletivo, um happening, nas escadarias do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde são rasgados livros de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, entre outros, por serem, segundo WDP, poetas discursivos. Ainda em 1968, é convidado a participar da Primeira Bienal de Arte Moderna de Nuremberg. Nesse mesmo período e nos anos iniciais da década de 1970, foi intensa a atividade do poeta, multiplicando-se as exposições deslocadas do Rio de Janeiro, ampliando a divulgação do Poema//Processo em Fortaleza, Natal, João Pessoa, Campina Grande, Olinda, Recife, Salvador, Ouro Preto, Florianópolos, Montevidéu e Buenos Aires.
1971 - Lança o livro Processo: Linguagem e Comunicação, que contém os princípios norteadores do Poema//Processo e uma antologia de poemas visuais representativos do movimento.
1972/3 - Retorna à Cuiabá para integrar o quadro técnico da UFMT, atuando como assessor da reitoria, pesquisador e programador visual e onde permanecerá por 25 anos.
1974 - Publica em colaboração com João Felício dos Santos, A Marca e o Logotipo Brasileiros, com posfácio de Antônio Houaiss qualificando o livro como “um catálogo nacional e temático de marcas e logotipos que constitui preciosa iniciação à faculdade de ver.”
1976/7 - Projeta e realiza a decorações geométricas para o carnaval de rua em Cuiabá intituladas; “Floração do Cerrado” e “Mosaicos Cuiabanos”.
1982 - Publica pelo Departamento de letras da UFMT , Wlademir Dias-Pino, a separação entre inscrever e escrever, catálogo de exposição retrospectiva, com depoimentos, poemas e iconografia do poeta.
1986 - Publica o livro-poema Numéricos, síntese das principais propostas do experimentalismo desenvolvido pelo poeta durante a fase da poesia concreta.
1990 - No início da década foram publicados, ao mesmo tempo, seis livros-caixas da Enciclopédia Visual. O conjunto dedica-se à pesquisa de caligramas, representações, escritas arcaicas, silhuetas femininas e desenhos art-nouveau da segunda metade do século XIX, elaborados pelo ilustrador inglês Aubrey Vincent Beardsley.
1994/2006 - Conclui suas atividades na UFMT retornando ao Rio de Janeiro dedicando-se à Enciclopédia Visual, programação visual, desenho e a pintura.
2007 – Conclui em parceria com Regina Pouchain o projeto dos Contrapoemas (Poemas Sem Palavras).
É um dos maiores valores da poesia visual brasileira. Integrou o movimento concretista, fundado pelos irmãos Campos. Participou da "Exposição Nacional de Arte Concreta" em 1956 no MASP. Publicou "Solida" em 1952, o primeiro "Livro-Poema" brasileiro. Em 1956 publicou "A Ave”: Mais tarde rompeu com o concretismo. Em 1967, com Álvaro de Sá e Neide Dias de Sá organizou na ESDI a exposição "LANÇAMENTO do POEMA-PROCESSO", ao mesmo tempo Moacy Cime iniciava o movimento no Nordeste. Para romper a tática de 'bloquear informações' dos paulistas, organizou a passeata de "Rasgação de Livros" em 1968, ano que publicou "Metacódigo". Em 1972, devido a repressão política o movimento dissolveu-se, lançando o manifesto "Parada Tática”. Atualmente desenvolve o Poema Conceito.Veja>>> CALIGRAMAS / CALIGRAMMES, seleção original de WLADEMIR DIAS-PINO:http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/caligramas.html
WLADEMIR DIAS-PINO
DADOS BIOGRÁFICOS
1927 - Nasce em 24 de abril, na cidade do Rio de Janeiro.
1936 - Acompanha a família transferida para Mato Grosso. O pai, anarquista e tipógrafo da Imprensa Nacional, por motivos políticos vai morar na província.
1940 - Publica A Fome dos Lados, poema em forma de livro que se abre verticalmente.
1941 - Pública A Máquina que Ri, também em forma de livro, explorando a horizontalidade da página branca.
1947 – Publicao livro Perfil.
1948 - Publica Dia da Cidade, livro-poema que espacializa as palavras dando funcionalidade ao branco. Começa a elaborar A Ave, poema voltado para as questões do manuseio e da visualidade, como livro-poema.
1949 - Funda o jornal Arauto de Juvenília, juntamente com o poeta Benedito Sant´Ana da Silva Freire tendo como órgão divulgador o jornal Sarã. Ambos iniciam o processo de renovação das letras cuiabanas, na tentativa de sacudir a pasmaceira e acertar o relógio da província.
1951 - Lança o movimento Intensivista com Rubens de Mendonça e Othoniel Silva.
1952 - Publica Poemas Desmontáveis. Transfere-se para o Rio de Janeiro, onde permanece por 20 anos.
1953 - Funda o jornal Japa, juntamente com Silva Freire, com a finalidade de publicar poetas jovens.
1954 - Edita Os Corcundas.
1955 - Publica A Máquina ou A Coisa em Si. Nessa época dedica-se também à pintura, elaborando a série Direcional.
1956 - Publica A Ave, livro inteiramente artesanal, com cerca de 300 exemplares, onde a perfuração, a cor e os gráficos funcionais fazem dele o primeiro livro-poema cibernético, cuja lógica está na fisicalidade do objeto-livro, quando o poema se realiza e a decodificação se dá através do manuseio. Nesse mesmo ano, faz parte do meio estudantil e elabora a programação visual da revista Movimento, da União Nacional dos Estudantes - UNE. Junto com Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos, Ronaldo Azeredo e Ferreira Gullar, funda o movimento da Poesia Concreta. Ao lado desses poetas e 22 artistas plásticos, participa da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta, em dezembro desse mesmo ano, em São Paulo e em fevereiro de 1957, no Rio de Janeiro. Ainda em 1956, promove a Primeira Noite de Arte Concreta na UNE, juntamente com o Poeta Silva Freire, introduzindo no meio estudantil o debate sobre a arte de vanguarda.
1957 - Publica Poema Espacional.
1958 - Realiza no carnaval, a primeira decoração geométrica do obelisco até a Praça Mauá no Rio de Janeiro. Publica Poemas para Armar e Poemas Manipuláveis.
1960 - Procede à releitura desses poemas, resultando nas várias versões, do poema visual Solida, publicadas em 1962. Entre 1960 e 1961, compôs o livro-poema Numéricos, publicado em 1968.
1962 – Edita Os Elementos.
1962/8 - Publica Metacódigo.
1963 - Publica Capa e Contra-Capa.
1967 - Publica Brasil Meia-Meia.
1967 - Participa da IX Bienal de São Paulo, com os Objetos Sensoriais. Em dezembro desse mesmo ano, funda, com outros poetas, o movimento Poema//Processo.
1968 – Em janeiro, o movimento liderado pelo poeta realiza ato público coletivo, um happening, nas escadarias do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde são rasgados livros de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, entre outros, por serem, segundo WDP, poetas discursivos. Ainda em 1968, é convidado a participar da Primeira Bienal de Arte Moderna de Nuremberg. Nesse mesmo período e nos anos iniciais da década de 1970, foi intensa a atividade do poeta, multiplicando-se as exposições deslocadas do Rio de Janeiro, ampliando a divulgação do Poema//Processo em Fortaleza, Natal, João Pessoa, Campina Grande, Olinda, Recife, Salvador, Ouro Preto, Florianópolos, Montevidéu e Buenos Aires.
1971 - Lança o livro Processo: Linguagem e Comunicação, que contém os princípios norteadores do Poema//Processo e uma antologia de poemas visuais representativos do movimento.
1972/3 - Retorna à Cuiabá para integrar o quadro técnico da UFMT, atuando como assessor da reitoria, pesquisador e programador visual e onde permanecerá por 25 anos.
1974 - Publica em colaboração com João Felício dos Santos, A Marca e o Logotipo Brasileiros, com posfácio de Antônio Houaiss qualificando o livro como “um catálogo nacional e temático de marcas e logotipos que constitui preciosa iniciação à faculdade de ver.”
1976/7 - Projeta e realiza a decorações geométricas para o carnaval de rua em Cuiabá intituladas; “Floração do Cerrado” e “Mosaicos Cuiabanos”.
1982 - Publica pelo Departamento de letras da UFMT , Wlademir Dias-Pino, a separação entre inscrever e escrever, catálogo de exposição retrospectiva, com depoimentos, poemas e iconografia do poeta.
1986 - Publica o livro-poema Numéricos, síntese das principais propostas do experimentalismo desenvolvido pelo poeta durante a fase da poesia concreta.
1990 - No início da década foram publicados, ao mesmo tempo, seis livros-caixas da Enciclopédia Visual. O conjunto dedica-se à pesquisa de caligramas, representações, escritas arcaicas, silhuetas femininas e desenhos art-nouveau da segunda metade do século XIX, elaborados pelo ilustrador inglês Aubrey Vincent Beardsley.
1994/2006 - Conclui suas atividades na UFMT retornando ao Rio de Janeiro dedicando-se à Enciclopédia Visual, programação visual, desenho e a pintura.
2007 – Conclui em parceria com Regina Pouchain o projeto dos Contrapoemas (Poemas Sem Palavras).
ENTREVISTA: A REVOLUÇÃO LÚDICA DE MANOEL DE BARROS
Manoel de Barros: ''O cisco tem para mim uma importância de catedral!''
Tolstói disse que para ser universal é preciso cantar a própria aldeia. O poeta Manoel de Barros considera que ser universal é uma evolução. Mas este bardo periférico de miudezas épicas, com seus 90 anos, completados em dezembro, vai muito além, consegue ser mais "ex-cêntrico", pois canta um fragmento mínimo da aldeia - o próprio quintal. E, para um poeta que foi militante da Juventude Comunista, isso é revolução.
A revolução lúdica de Manoel de Barros é feita com cisco, borra, lata e sol, sapo, formiga, lagartixa e passarinho. Vale dizer: com palavras, pois são elas o brinquedo de armar do vate mato-grossense. Mas cuidado: "Hoje amarrei no rosto das palavras minha máscara", adverte-nos em Poemas rupestres, porque toda essa lírica de calças curtas, pés no chão e penacho de estrelas oculta uma atiradeira no bolso de trás da gramática, para "jogar pedra no bom senso". Alguma coisa zen, contudo, permanece na poesia pantaneira de Manoel de Barros. "Daqui vem que os poetas podem compreender/ o mundo sem conceitos" (Ensaios fotográficos). Essa duplicidade corresponde a algo como um paradoxo budista em que os meios justificam os fins. Conta-se de um mestre zen que, antes de aceitar um aspirante, na soleira do templo, para testá-lo, esbofeteava-lhe a face. Caso o candidato reagisse com ira, era recusado. "Quem atinge o valor do que não presta é, no mínimo,/ um sábio ou um poeta" (Ensaios fotográficos). É preciso dar a outra face, às vezes, para acolher as muitas bofetadas semânticas do poeta. Tapas no "homem de lata", sopapos no erudito pernóstico, bofetes na mediocridade.
Como a vida, nesse aspecto, é igualmente pródiga, Manoel de Barros, coerente com sua "prática do limo" (Gramática expositiva), reage aos pescoções que, por sua vez, recebe da crítica, resignadamente: "Repetir é minha tortura", confessa. Quando meu amigo Fábio Schatzmann me abriu o caminho para a lírica do poeta mato-grossense, com uma mão-cheia de livros, o eterno retorno dessa obra pantaneira se tornou evidente. Fatos são fatos e contra eles não há argumentos. Mas ao cabo, citando o Eclesiastes, "nada há de novo debaixo do sol". Tudo se repete, as marés, os dias, as estações, os anos, os sentimentos, as esperanças e as palavras.
Há uma teoria de que o próprio universo de repete em big bangs. O poeta, afinal, está certo, somos apenas poeira de estrelas. Entretanto, apesar de tudo, nada é igual, apenas semelhante. Basta pestanejar, e o mundo mudou. Assim é a galáxia de Manoel de Barros, espiralada, igualmente desigual. Como diz em Tratado geral das grandezas do ínfimo: "Poeta/ é uma pessoa/ que reverdece nele mesmo".
Nesta entrevista, Manoel de Barros responde sintética, mas essencialmente a perguntas enviadas por e-mail.
• Aos 90 anos, o senhor continua, como no poema Enunciado, gozando suas "horas a brincar com palavras"?
Existe projeto de um novo livro?Já disse muitas vezes que pratico todos os dias a Língua de brincar. Repito ainda que a palavra só me seduz quando chega ao grau de brinquedo.
• Geográfica e poeticamente falando, Manoel de Barros é um poeta de periferia ou tal coisa não existe na medida em que o centro está onde estamos?
Ser de periferia traz a idéia de que faço uma poesia de recanto. Considero que ser universal é uma evolução, mas ser de periferia é uma revolução. Acho que faço a poesia do meu quintal.
• Alguns de seus poemas colocam ordem no insignificante, nomeando os sintomas da "disfunção lírica" e relacionando "privilégios de ser pedra". Em Tributo a J.G. Rosa existe uma ordem, digamos, silogística. Pode-se dizer que há um sistema nessa poesia rupestre e instintiva?
Não há sistema nem lógica. O que faço com alguma jubilação é jogar pedra no bom senso.
• Versos do poema O cisco dizem: "Para compor um tratado de passarinhos/ É preciso por primeiro que haja um rio com árvores/ e palmeiras nas margens". A consoante "p", de passarinho, voeja por toda a extensão dos versos. Qual importância tem o rigor formal em seu trabalho?
O rigor formal tem para a poesia mais importância do que as idéias. Poesia é armação de palavras com um canto dentro.
• Alguns metapoemas, em Ensaios fotográficos, sugerem esse caminho, como em O roceiro: "Retiro de novo as pragas: objetos de aves, adjetivos ... E deixo o texto a germinar sobre o branco do papel". Existe uma bênção da inocência nas palavras.
• Em Arranjos para assovio há um verso: "Ninguém é pai de um poema sem morrer". Em Ensaios fotográficos há versos como "falar a partir de ninguém" e "compreender o mundo sem conceitos". Em Tratado geral das grandezas do ínfimo, no poema Ascensão, refere-se ao "feto do verbo" e nos Poemas rupestres "as coisas todas inominadas". Existe algo de zen nesse fazer poético: "Sou beato de águas/ de pedras/ e de aves"?
É isso mesmo. E tem mais uma coisa: o cisco tem para mim uma importância de catedral!
• Gaston Bachelar, em A poética do espaço, escreve que "tomar uma lupa é prestar atenção" e pergunta "prestar atenção não será possuir uma lupa?". Os poemas de Manoel de Barros são uma lupa para as grandezas das insignificâncias. É assim?
Eu não uso lupa. As coisas miúdas que aparecem para mim enormes são visões. Porque eu não tenho o ver, eu tenho visões. As visões vêm sempre acompanhadas de loucuras, fantasias, bobagens profundas ou coisinhas de nada e vãs. Ponere res ante óculos.
• Alguns críticos falam em "barrismo" e dizem que o senhor se autoplagia, que usa as mesmas estruturas (despalavra, desorgulhoso, etc.), as mesmas categorias morfológicas ("eu me eremito", letral, etc.), os mesmos temas (lata, passarinho, visgo, formiga). O que o senhor pensa disso?
Repetir é minha tortura. Mas como posso não repetir as palavras se elas estão pregadas na minha existência?
• O senhor trocou o comunismo internacional pela comunhão pantaneira. O que Manoel de Barras pensa hoje sobre a política?
Já fui comunista depois virei poeta. Meu comunismo era um sonho de fazer o mundo melhor. Agora eu tenho um novo sonho: é o sonho de inserir no meio das palavras certa harmonia que aprendi por ouvir o gorjeio dos pássaros.
• Em Sabiá com trevas, de Arranjos para assobio, livro de 1980, há um poema no qual o sujeito lírico parece responder a uma entrevista. Passou-se um quarto de século, por isso, vou aqui parafrasear algumas daquelas questões, desta vez, para o senhor responder em prosa.
— Difícil de entender [parte de] sua poesia, o senhor concorda?Concordo que seja difícil entender a minha poesia porque ela é feita de imagens. O leitor terá que botar a imagem concretizada no olho.
— E sobre a palavra?
A palavra é matéria que eu uso para armar o verso.
— Alguns dados biográficos?
Nasci na beira do rio Cuiabá em 1916. Não sei morrer.
— E como é que o senhor escreve?
Escrevo a lápis. Hoje sou marginal porque não sei mexer com computador.
Sobre o autorManoel de Barros nasceu em Cuiabá (MT), no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916. Atualmente mora em Campo Grande (MS). É advogado, fazendeiro e poeta.
É autor de:
• 1937 Poemas concebidos sem pecado• 1942 Face imóvel• 1956 Poesias• 1960 Compêndio para uso dos pássaros• 1966 Gramática expositiva do chão• 1974 Matéria de poesia• 1982 Arranjos para assobio• 1985 Livro de pré-coisas (Ilustração da capa: Martha Barros)• 1989 O guardador das águas• 1990 Poesia quase toda• 1991 Concerto a céu aberto para solos de aves• 1993 O livro das ignorãças• 1996 Livro sobre nada (Ilustrações de Wega Nery)• 1998 Retrato do artista quando coisa (Ilustrações de Millôr Fernandes)• 1999 Exercícios de ser criança• 2000 Ensaios fotográficos• 2001 O fazedor de amanhecer• 2001 Poeminhas pescados numa fala de João• 2001 Tratado geral das grandezas do ínfimo (Ilustrações de Martha Barros)• 2003 Memórias inventadas - A infância (Ilustrações de Martha Barros)• 2003 Cantigas para um passarinho à toa• 2004 Poemas rupestres (Ilustrações de Martha Barros)• 2006 Memórias inventadas - A segunda infância
Fonte: Projeto Releituras (www.releituras.com)
Tolstói disse que para ser universal é preciso cantar a própria aldeia. O poeta Manoel de Barros considera que ser universal é uma evolução. Mas este bardo periférico de miudezas épicas, com seus 90 anos, completados em dezembro, vai muito além, consegue ser mais "ex-cêntrico", pois canta um fragmento mínimo da aldeia - o próprio quintal. E, para um poeta que foi militante da Juventude Comunista, isso é revolução.
A revolução lúdica de Manoel de Barros é feita com cisco, borra, lata e sol, sapo, formiga, lagartixa e passarinho. Vale dizer: com palavras, pois são elas o brinquedo de armar do vate mato-grossense. Mas cuidado: "Hoje amarrei no rosto das palavras minha máscara", adverte-nos em Poemas rupestres, porque toda essa lírica de calças curtas, pés no chão e penacho de estrelas oculta uma atiradeira no bolso de trás da gramática, para "jogar pedra no bom senso". Alguma coisa zen, contudo, permanece na poesia pantaneira de Manoel de Barros. "Daqui vem que os poetas podem compreender/ o mundo sem conceitos" (Ensaios fotográficos). Essa duplicidade corresponde a algo como um paradoxo budista em que os meios justificam os fins. Conta-se de um mestre zen que, antes de aceitar um aspirante, na soleira do templo, para testá-lo, esbofeteava-lhe a face. Caso o candidato reagisse com ira, era recusado. "Quem atinge o valor do que não presta é, no mínimo,/ um sábio ou um poeta" (Ensaios fotográficos). É preciso dar a outra face, às vezes, para acolher as muitas bofetadas semânticas do poeta. Tapas no "homem de lata", sopapos no erudito pernóstico, bofetes na mediocridade.
Como a vida, nesse aspecto, é igualmente pródiga, Manoel de Barros, coerente com sua "prática do limo" (Gramática expositiva), reage aos pescoções que, por sua vez, recebe da crítica, resignadamente: "Repetir é minha tortura", confessa. Quando meu amigo Fábio Schatzmann me abriu o caminho para a lírica do poeta mato-grossense, com uma mão-cheia de livros, o eterno retorno dessa obra pantaneira se tornou evidente. Fatos são fatos e contra eles não há argumentos. Mas ao cabo, citando o Eclesiastes, "nada há de novo debaixo do sol". Tudo se repete, as marés, os dias, as estações, os anos, os sentimentos, as esperanças e as palavras.
Há uma teoria de que o próprio universo de repete em big bangs. O poeta, afinal, está certo, somos apenas poeira de estrelas. Entretanto, apesar de tudo, nada é igual, apenas semelhante. Basta pestanejar, e o mundo mudou. Assim é a galáxia de Manoel de Barros, espiralada, igualmente desigual. Como diz em Tratado geral das grandezas do ínfimo: "Poeta/ é uma pessoa/ que reverdece nele mesmo".
Nesta entrevista, Manoel de Barros responde sintética, mas essencialmente a perguntas enviadas por e-mail.
• Aos 90 anos, o senhor continua, como no poema Enunciado, gozando suas "horas a brincar com palavras"?
Existe projeto de um novo livro?Já disse muitas vezes que pratico todos os dias a Língua de brincar. Repito ainda que a palavra só me seduz quando chega ao grau de brinquedo.
• Geográfica e poeticamente falando, Manoel de Barros é um poeta de periferia ou tal coisa não existe na medida em que o centro está onde estamos?
Ser de periferia traz a idéia de que faço uma poesia de recanto. Considero que ser universal é uma evolução, mas ser de periferia é uma revolução. Acho que faço a poesia do meu quintal.
• Alguns de seus poemas colocam ordem no insignificante, nomeando os sintomas da "disfunção lírica" e relacionando "privilégios de ser pedra". Em Tributo a J.G. Rosa existe uma ordem, digamos, silogística. Pode-se dizer que há um sistema nessa poesia rupestre e instintiva?
Não há sistema nem lógica. O que faço com alguma jubilação é jogar pedra no bom senso.
• Versos do poema O cisco dizem: "Para compor um tratado de passarinhos/ É preciso por primeiro que haja um rio com árvores/ e palmeiras nas margens". A consoante "p", de passarinho, voeja por toda a extensão dos versos. Qual importância tem o rigor formal em seu trabalho?
O rigor formal tem para a poesia mais importância do que as idéias. Poesia é armação de palavras com um canto dentro.
• Alguns metapoemas, em Ensaios fotográficos, sugerem esse caminho, como em O roceiro: "Retiro de novo as pragas: objetos de aves, adjetivos ... E deixo o texto a germinar sobre o branco do papel". Existe uma bênção da inocência nas palavras.
• Em Arranjos para assovio há um verso: "Ninguém é pai de um poema sem morrer". Em Ensaios fotográficos há versos como "falar a partir de ninguém" e "compreender o mundo sem conceitos". Em Tratado geral das grandezas do ínfimo, no poema Ascensão, refere-se ao "feto do verbo" e nos Poemas rupestres "as coisas todas inominadas". Existe algo de zen nesse fazer poético: "Sou beato de águas/ de pedras/ e de aves"?
É isso mesmo. E tem mais uma coisa: o cisco tem para mim uma importância de catedral!
• Gaston Bachelar, em A poética do espaço, escreve que "tomar uma lupa é prestar atenção" e pergunta "prestar atenção não será possuir uma lupa?". Os poemas de Manoel de Barros são uma lupa para as grandezas das insignificâncias. É assim?
Eu não uso lupa. As coisas miúdas que aparecem para mim enormes são visões. Porque eu não tenho o ver, eu tenho visões. As visões vêm sempre acompanhadas de loucuras, fantasias, bobagens profundas ou coisinhas de nada e vãs. Ponere res ante óculos.
• Alguns críticos falam em "barrismo" e dizem que o senhor se autoplagia, que usa as mesmas estruturas (despalavra, desorgulhoso, etc.), as mesmas categorias morfológicas ("eu me eremito", letral, etc.), os mesmos temas (lata, passarinho, visgo, formiga). O que o senhor pensa disso?
Repetir é minha tortura. Mas como posso não repetir as palavras se elas estão pregadas na minha existência?
• O senhor trocou o comunismo internacional pela comunhão pantaneira. O que Manoel de Barras pensa hoje sobre a política?
Já fui comunista depois virei poeta. Meu comunismo era um sonho de fazer o mundo melhor. Agora eu tenho um novo sonho: é o sonho de inserir no meio das palavras certa harmonia que aprendi por ouvir o gorjeio dos pássaros.
• Em Sabiá com trevas, de Arranjos para assobio, livro de 1980, há um poema no qual o sujeito lírico parece responder a uma entrevista. Passou-se um quarto de século, por isso, vou aqui parafrasear algumas daquelas questões, desta vez, para o senhor responder em prosa.
— Difícil de entender [parte de] sua poesia, o senhor concorda?Concordo que seja difícil entender a minha poesia porque ela é feita de imagens. O leitor terá que botar a imagem concretizada no olho.
— E sobre a palavra?
A palavra é matéria que eu uso para armar o verso.
— Alguns dados biográficos?
Nasci na beira do rio Cuiabá em 1916. Não sei morrer.
— E como é que o senhor escreve?
Escrevo a lápis. Hoje sou marginal porque não sei mexer com computador.
Sobre o autorManoel de Barros nasceu em Cuiabá (MT), no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916. Atualmente mora em Campo Grande (MS). É advogado, fazendeiro e poeta.
É autor de:
• 1937 Poemas concebidos sem pecado• 1942 Face imóvel• 1956 Poesias• 1960 Compêndio para uso dos pássaros• 1966 Gramática expositiva do chão• 1974 Matéria de poesia• 1982 Arranjos para assobio• 1985 Livro de pré-coisas (Ilustração da capa: Martha Barros)• 1989 O guardador das águas• 1990 Poesia quase toda• 1991 Concerto a céu aberto para solos de aves• 1993 O livro das ignorãças• 1996 Livro sobre nada (Ilustrações de Wega Nery)• 1998 Retrato do artista quando coisa (Ilustrações de Millôr Fernandes)• 1999 Exercícios de ser criança• 2000 Ensaios fotográficos• 2001 O fazedor de amanhecer• 2001 Poeminhas pescados numa fala de João• 2001 Tratado geral das grandezas do ínfimo (Ilustrações de Martha Barros)• 2003 Memórias inventadas - A infância (Ilustrações de Martha Barros)• 2003 Cantigas para um passarinho à toa• 2004 Poemas rupestres (Ilustrações de Martha Barros)• 2006 Memórias inventadas - A segunda infância
Fonte: Projeto Releituras (www.releituras.com)
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